Menina que estás á janela
No décimo primeiro andar
Escuta a solidão por ela
Com toque de banda a passar
Desencosta o rosto à vidraça
Desata o sonho à ilusão
Vem comigo andar na praça
Vem comigo dá-me a mão.
Tu que resistes nessa torre
Com uma ameia de tristeza
Sentes mais um dia que morre
No espelho que gela a beleza
Porquê tanta espera e demora
Em meios-termos desencontrados.
A água por quem o tempo chora
Lava os teus desgostos passados.
Aqui em baixo à tua espera
Neste banco de onde te fito
Trago-te um bouquet de quimera
E um mar de amor infinito.
O vento que sopra desse mar
Fere as mágoas e marés
Levanta amarras sem voltar
Ondas contra as tuas galés.
Menina que estás á janela
No décimo primeiro andar
Escuta a solidão por ela
Sem que me deixes consolar.
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Dispositivo #5#
Tudo ruiu à tua passagem!
Só o gato miava
Continuamente à janela
Do paraíso!
E sobre o rabo enroscado
A serpente
Mitigava
A amora desprovida
De fado.
Tudo ruiu à tua passagem!
Só o gato miava
Continuamente à janela
Do paraíso!
E sobre o rabo enroscado
A serpente
Mitigava
A amora desprovida
De fado.
Tudo ruiu à tua passagem!
Dia Positivo
Submergi na sapiente
Água crepitada
No leito ermo
De um riacho
Que se desprende naturalmente
Do lado nascente
Da serra que me arvora.
Límpida! Esbelta!
Meu corpo profano
Deleitava-se nesse pueril
Perfume, de verde dissolvido
E de ocre que refulge
Da noite que lambe
A lua crua.
Oh sangue da natureza!
Choro perpétuo das rochas,
Gemido em tímido êxtase
Dessas entranhas
Que parem os mistérios
Cujo sensível não alcança,
Mas contempla.
Devoto, o meu eu
Redopiava como um esquife
Numa incontrolável
Volúpia.
Água crepitada
No leito ermo
De um riacho
Que se desprende naturalmente
Do lado nascente
Da serra que me arvora.
Límpida! Esbelta!
Meu corpo profano
Deleitava-se nesse pueril
Perfume, de verde dissolvido
E de ocre que refulge
Da noite que lambe
A lua crua.
Oh sangue da natureza!
Choro perpétuo das rochas,
Gemido em tímido êxtase
Dessas entranhas
Que parem os mistérios
Cujo sensível não alcança,
Mas contempla.
Devoto, o meu eu
Redopiava como um esquife
Numa incontrolável
Volúpia.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Dispositivo #4#
O homem de aço
Escuda-se na presença
Do muro escuso
Tornado imóvel
No campo da negação.
Abriga a vítima
Dos corvos gigantes,
E espera que o tempo
Seja acontecimento.
Os seus abutres selvagens
Nidificam-lhe nas órbitas
Escuras e sobre as densas
Nuvens cegas de letargia
Partem náufragos do desejo
Em cujo regaço as flores
Pálidas tomam por luz
A ausência.
Lolita tem um elo
Plantado no cadafalso
Desse céu de orvalho
Gemido… deita-se
No pasto da noite
Após deambular
Pelas avenidas chocadas
Sobre as torres de betão
E as árvores prateadas…
Escuda-se na presença
Do muro escuso
Tornado imóvel
No campo da negação.
Abriga a vítima
Dos corvos gigantes,
E espera que o tempo
Seja acontecimento.
Os seus abutres selvagens
Nidificam-lhe nas órbitas
Escuras e sobre as densas
Nuvens cegas de letargia
Partem náufragos do desejo
Em cujo regaço as flores
Pálidas tomam por luz
A ausência.
Lolita tem um elo
Plantado no cadafalso
Desse céu de orvalho
Gemido… deita-se
No pasto da noite
Após deambular
Pelas avenidas chocadas
Sobre as torres de betão
E as árvores prateadas…
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Dispositivo#3#
Gosto da cor,
Garrida de preferência.
A jactância do preto
E branco formam
Distâncias e perfeições
A que não aspiro…
Sou um comum
Ciente do comum.
A cor
Transmite-me vida,
Luz
Perfume
Jardim
Ilhas expostas à inclusão
Onde todas os matizes
São pontos de partida.
Gosta da cor,
Viva de preferência,
Da voz que se levanta
Sobre o silêncio
Das manadas
Enquistadas
Pela indolência
E pelo sono
Dos corpos retidos
De movimentos.
Bebo da espuma
A diversidade
Num trago glacial
E volto como
Se a manhã fosse
Eterna.
Garrida de preferência.
A jactância do preto
E branco formam
Distâncias e perfeições
A que não aspiro…
Sou um comum
Ciente do comum.
A cor
Transmite-me vida,
Luz
Perfume
Jardim
Ilhas expostas à inclusão
Onde todas os matizes
São pontos de partida.
Gosta da cor,
Viva de preferência,
Da voz que se levanta
Sobre o silêncio
Das manadas
Enquistadas
Pela indolência
E pelo sono
Dos corpos retidos
De movimentos.
Bebo da espuma
A diversidade
Num trago glacial
E volto como
Se a manhã fosse
Eterna.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Dispositivo #2#
Apraz-me o gesto da eternidade
No rosto lívido que entra na caverna
Do tempo… Dissolvido o humano,
A manhã fresca sopra como
Uma leve brisa de latitudes
Para lá das sensoriais
Vozes. Tudo é natureza,
Tudo é dissolvido,
Amassado
E de novo dado à luz…
Pela grande Mãe.
No rosto lívido que entra na caverna
Do tempo… Dissolvido o humano,
A manhã fresca sopra como
Uma leve brisa de latitudes
Para lá das sensoriais
Vozes. Tudo é natureza,
Tudo é dissolvido,
Amassado
E de novo dado à luz…
Pela grande Mãe.
terça-feira, 15 de julho de 2014
Dispositivo #1#
Deitado na cama
Recordo a transcendência
De a dão.
Envolvo-te em silêncio
Em resposta aos teus
Murmúrios, às tuas
Interjeições e abismos
E nas quatro paredes
Os únicos sinais
Que busco
São os meus medos,
As minhas metáteses
E os freios cujas rédeas
Desembocam
Na maçã que perjuras.
Ouço no meu êxtase
O silvo
Das cordas dedicadas
E como barcos
Acendemos a vela
Enferma de marés
Inconstantes
E percorremos o azul
Verdejante dos campos
De papoilas. Como é belo
O último suspiro do mar!,
A sofreguidão das ondas
Que esfregam a espuma
No casco do esquife!...
Embutidos na corrente
Apertamos
As amoras nos lábios…
E fundeamos num mundo
Novo.
Recordo a transcendência
De a dão.
Envolvo-te em silêncio
Em resposta aos teus
Murmúrios, às tuas
Interjeições e abismos
E nas quatro paredes
Os únicos sinais
Que busco
São os meus medos,
As minhas metáteses
E os freios cujas rédeas
Desembocam
Na maçã que perjuras.
Ouço no meu êxtase
O silvo
Das cordas dedicadas
E como barcos
Acendemos a vela
Enferma de marés
Inconstantes
E percorremos o azul
Verdejante dos campos
De papoilas. Como é belo
O último suspiro do mar!,
A sofreguidão das ondas
Que esfregam a espuma
No casco do esquife!...
Embutidos na corrente
Apertamos
As amoras nos lábios…
E fundeamos num mundo
Novo.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Sobre Corrente
Não quero ser rio,
Nem mar,
Nem oceano,
Antes um ribeiro
Juncado por inúteis
E pardas excrescências
Da natureza brava
Que escurece
A sombra
E releva a exuberância
Do verde que forma
Todo o corpo
Da serpente infinita.
Não quero ser noite
Nem dia,
Nem céu,
Nem terra,
Dos astros pretendo
O berro abafado
Do jogo das desarmonias.
O que me
Seduz
É a relevância
Do instante.
Deixo para outrem
O apego ao Universo,
À matéria negra
Que lhe enche
A despensa,
Ao caudal
Do ouro
Colhido nos
Ramos do sol
E guardados
Pela inquietude
Da probabilidade,
À miséria
Dos pés que se fixam
Sobre os ombros
Das manadas
Ansiosas
Por um quê
De forragem.
O que me
Seduz
É a constância
Do ser.
Nem mar,
Nem oceano,
Antes um ribeiro
Juncado por inúteis
E pardas excrescências
Da natureza brava
Que escurece
A sombra
E releva a exuberância
Do verde que forma
Todo o corpo
Da serpente infinita.
Não quero ser noite
Nem dia,
Nem céu,
Nem terra,
Dos astros pretendo
O berro abafado
Do jogo das desarmonias.
O que me
Seduz
É a relevância
Do instante.
Deixo para outrem
O apego ao Universo,
À matéria negra
Que lhe enche
A despensa,
Ao caudal
Do ouro
Colhido nos
Ramos do sol
E guardados
Pela inquietude
Da probabilidade,
À miséria
Dos pés que se fixam
Sobre os ombros
Das manadas
Ansiosas
Por um quê
De forragem.
O que me
Seduz
É a constância
Do ser.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
A Noite
Foges na noite…
O meio rosto luz
Animado em manto
De cera. Não esperas
Brilho, nem lucidez,
Nem um rumo
Por entre as vielas
Adormecidas
De gente
Que se repete.
Procuras o teu
Refúgio
No lodo mais negro
Das cidades consumidas
Pelas ruas de
Segredo matizado.
Colhes as tuas flores
Cujas pétalas
Exalam a nicotina
Do fundo
Que te come.
Ardes de dor,
Uma dor que volta
Como uma redoma
E te aconchega
Cada vez mais fundo...
Por entre vielas
Adormecidas
De gente
Que se repete.
O meio rosto luz
Animado em manto
De cera. Não esperas
Brilho, nem lucidez,
Nem um rumo
Por entre as vielas
Adormecidas
De gente
Que se repete.
Procuras o teu
Refúgio
No lodo mais negro
Das cidades consumidas
Pelas ruas de
Segredo matizado.
Colhes as tuas flores
Cujas pétalas
Exalam a nicotina
Do fundo
Que te come.
Ardes de dor,
Uma dor que volta
Como uma redoma
E te aconchega
Cada vez mais fundo...
Por entre vielas
Adormecidas
De gente
Que se repete.
terça-feira, 13 de maio de 2014
News from the world
Nasci nas certezas
Mas as incertezas
São os alpendres de poiso…
Vejo anunciar verdades na tv…
Despes-te à janela…
No facebook colocas
As tuas últimas ousadias…
Os barcos velozes
Tramam o rumo às gaivotas…
Um cavalo desmamado
Cresce touro por entre
Caveiras de seres…
E três colegiais medusas
Aparecem com faunos
Colados
Em grandes lábios
Carmins.
Um cão míope
No meio da estrada
Gania com todas as
Forças do mundo…
Contorcia-se,
Bradava
Dúvidas,
E a natureza obedecia-lhe…
Da boca
Saiu-lhe um gato malhado
Que se sentou
Na esplanada
Dum bar.
Abriu o jornal
E pediu ao homem
Do lado que lhe
Atasse os sapatos.
A princesa
Cerrou a janela vermelha
E acendeu a luz
De presença.
Mas as incertezas
São os alpendres de poiso…
Vejo anunciar verdades na tv…
Despes-te à janela…
No facebook colocas
As tuas últimas ousadias…
Os barcos velozes
Tramam o rumo às gaivotas…
Um cavalo desmamado
Cresce touro por entre
Caveiras de seres…
E três colegiais medusas
Aparecem com faunos
Colados
Em grandes lábios
Carmins.
Um cão míope
No meio da estrada
Gania com todas as
Forças do mundo…
Contorcia-se,
Bradava
Dúvidas,
E a natureza obedecia-lhe…
Da boca
Saiu-lhe um gato malhado
Que se sentou
Na esplanada
Dum bar.
Abriu o jornal
E pediu ao homem
Do lado que lhe
Atasse os sapatos.
A princesa
Cerrou a janela vermelha
E acendeu a luz
De presença.
sábado, 10 de maio de 2014
O Senhor das Dores
Em frente ao espelho
Uma t-shirt verde
É alvo de interesse
Dum cristo preso ao madeiro
Para espanto de um jesuíta
Que a todo o custo
Tenta dissuadir-lhe
O olhar fixo e penetrante.
“Senhor! Não foi isto
Que nos ensinaste!”
“É do que necessito!
Estou nú, tenho frio.”
O pregador arguto
Contesta.
“A Vossa nudez
É património imaterial
Da humanidade!”
“Veste-me! Tira-me também
Esta maldita coroa
Que me magoa
Há dois mil anos!”
O frade benze-se.
“Queima também esta cruz.
A cruz que todos os anos
Renovais! Se fosse a original
Já tinha apodrecido.
Hoje era um Homem livre”.
Uma t-shirt verde
É alvo de interesse
Dum cristo preso ao madeiro
Para espanto de um jesuíta
Que a todo o custo
Tenta dissuadir-lhe
O olhar fixo e penetrante.
“Senhor! Não foi isto
Que nos ensinaste!”
“É do que necessito!
Estou nú, tenho frio.”
O pregador arguto
Contesta.
“A Vossa nudez
É património imaterial
Da humanidade!”
“Veste-me! Tira-me também
Esta maldita coroa
Que me magoa
Há dois mil anos!”
O frade benze-se.
“Queima também esta cruz.
A cruz que todos os anos
Renovais! Se fosse a original
Já tinha apodrecido.
Hoje era um Homem livre”.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Rabiscos #1#
Torce a realidade
Talvez pingue algum sonho.
O sonho é a alma
Mater da vida
Que transforma
As metáteses do ego
Num corpo cósmico
De renovação ascendente.
É o rompimento do status
Que não pressupõe
Que o fogo tempere
A verdade,
Nem admite a substração
Das camadas do nada poeirento
Que te torna corcunda
E preso ao chão.
O chão é o labirinto
Das escadas que percorres,
Do emprego que te adia,
E dos interlúdios que te adormecem.
Salta pela janela
Há luz fora do espaço
E o universo expande-se
Pelo toque dos teus dedos.
Talvez pingue algum sonho.
O sonho é a alma
Mater da vida
Que transforma
As metáteses do ego
Num corpo cósmico
De renovação ascendente.
É o rompimento do status
Que não pressupõe
Que o fogo tempere
A verdade,
Nem admite a substração
Das camadas do nada poeirento
Que te torna corcunda
E preso ao chão.
O chão é o labirinto
Das escadas que percorres,
Do emprego que te adia,
E dos interlúdios que te adormecem.
Salta pela janela
Há luz fora do espaço
E o universo expande-se
Pelo toque dos teus dedos.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Tropeções Analiticos
Sobre a mesa desconexa
Restam pedaços de pão
E copos comensais
Ora cheios ora vazios
Intercalando
A conversa…
Discute-se o estado
Do estado, o estado
Do tempo, o estado
Da alma, o estado
Do momento…
Discorrem-se soluções
Gerais,
Veniais,
Universais
E tudo o mais…
Segue-se uma cartada
De tremoços
E amendoins.
Vêm os futebóis!
A última largada de toiros!
A chegada da época de caça!
Novamente os boys
Misturados com cerveja
E por fim uma largada
De chouriço, camarão
E caracóis.
Restam pedaços de pão
E copos comensais
Ora cheios ora vazios
Intercalando
A conversa…
Discute-se o estado
Do estado, o estado
Do tempo, o estado
Da alma, o estado
Do momento…
Discorrem-se soluções
Gerais,
Veniais,
Universais
E tudo o mais…
Segue-se uma cartada
De tremoços
E amendoins.
Vêm os futebóis!
A última largada de toiros!
A chegada da época de caça!
Novamente os boys
Misturados com cerveja
E por fim uma largada
De chouriço, camarão
E caracóis.
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Palavras In Sensatas
Desconstróis a mágoa,
A buril noite de frios negrumes,
Sombras libertas
Dos avaros braços estendidos
Das árvores,
E apagas o silêncio
Que as bocas fechadas
Tremem de prazer.
A buril noite de frios negrumes,
Sombras libertas
Dos avaros braços estendidos
Das árvores,
E apagas o silêncio
Que as bocas fechadas
Tremem de prazer.
domingo, 20 de abril de 2014
Borboletas
As asas das borboletas
Encristam-se na epiderme
Voluptuosa
Quando o interior
Freme de prazer.
É vê-las nesse instante
Aprimorado, soltando
Larvas sobre cidades
De metáforas
Encrustando tons
Que a natureza
Entumece.
É nesses rios
Que transpõem
As pontes do desejo
Seduzidas por romãs
Escarlates,
Em cujo leito, o polén
Renascido
Das metamorfoses
Flui para o eterno.
Encristam-se na epiderme
Voluptuosa
Quando o interior
Freme de prazer.
É vê-las nesse instante
Aprimorado, soltando
Larvas sobre cidades
De metáforas
Encrustando tons
Que a natureza
Entumece.
É nesses rios
Que transpõem
As pontes do desejo
Seduzidas por romãs
Escarlates,
Em cujo leito, o polén
Renascido
Das metamorfoses
Flui para o eterno.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Wall Street
Na berma da estrada
Para além dos arbustos
Está um homem enrascado
Com as calças na mão…
Faz-me lembrar
Um país na mesma posição
Com vontade de puxar,
Puxar (o autoclismo).
O resto cheira mal,
Porém há sempre
Um avaro seguidista
Que se apresta
A limpar-lhe o rabo
E a passar as amostras
Na bolsa de Wall Street.
Para além dos arbustos
Está um homem enrascado
Com as calças na mão…
Faz-me lembrar
Um país na mesma posição
Com vontade de puxar,
Puxar (o autoclismo).
O resto cheira mal,
Porém há sempre
Um avaro seguidista
Que se apresta
A limpar-lhe o rabo
E a passar as amostras
Na bolsa de Wall Street.
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Planicies Tumultuosas
Emborquei
Um copo de silêncio
E o liquido sagrado
Arvorou em mim
Mil línguas
Mil introitos,
Vozes gesticuladas
Elevadas na planície
Ceifando as cearas
Do grão amarelo,
Limpo de suor humano,
Adicionando pontes
Sobre rios tumultuosos
Das casas cinzentas
De costas afastadas
E de alicerces apodrecidos.
O sangue encheu-se
De vinho novo
E os silêncios liquidificaram-se
Enchendo as primaveras
De cordeiros e os invernos
De famintos lobos,
E nem o fogo
Apagou memórias.
Um copo de silêncio
E o liquido sagrado
Arvorou em mim
Mil línguas
Mil introitos,
Vozes gesticuladas
Elevadas na planície
Ceifando as cearas
Do grão amarelo,
Limpo de suor humano,
Adicionando pontes
Sobre rios tumultuosos
Das casas cinzentas
De costas afastadas
E de alicerces apodrecidos.
O sangue encheu-se
De vinho novo
E os silêncios liquidificaram-se
Enchendo as primaveras
De cordeiros e os invernos
De famintos lobos,
E nem o fogo
Apagou memórias.
terça-feira, 8 de abril de 2014
Azul Insano
Rasguei o meu corpo
Na fábrica. Abri
Lanhos do tamanho
Do mundo na palma
Da mão. Quebradas
As articulações
Os ossos romperam
Ao peso da carne.
E os olhos transmutaram
O universo numa
Porção de sombras
E degredos desconexos.
Nem as entranhas
Estranharam a fuligem
Distribuída na saliva
Alimentada pelo pão
Que estomago amassa.
O canto dos pássaros
Perdeu o seu encanto
Apenas breves zumbidos
Me recordam
A sua existência.
O espaço desreconheceu
O pentagrama
Da latitude do lugar.
Sinto apenas
O normal respirar
Reparado por químicos
E outras assombrações
Que se transmigram.
Na fábrica. Abri
Lanhos do tamanho
Do mundo na palma
Da mão. Quebradas
As articulações
Os ossos romperam
Ao peso da carne.
E os olhos transmutaram
O universo numa
Porção de sombras
E degredos desconexos.
Nem as entranhas
Estranharam a fuligem
Distribuída na saliva
Alimentada pelo pão
Que estomago amassa.
O canto dos pássaros
Perdeu o seu encanto
Apenas breves zumbidos
Me recordam
A sua existência.
O espaço desreconheceu
O pentagrama
Da latitude do lugar.
Sinto apenas
O normal respirar
Reparado por químicos
E outras assombrações
Que se transmigram.
domingo, 6 de abril de 2014
Emboscada
No bar da praia
As ondas tomam-me
Os pés de marés cheias
De cerrada multidão.
Néones fragmentados
Pululam esbatimento
De copos vazios
Caoticamente distribuídos
Sobre a areia burilada
Pelos pés seguidores
Dos ritmos alternados
Pelas colunas de som.
O DJ aumenta a batida.
Embalo, embalo como
Um louco contorcionista
Cujos ossos ameaçam
Desagregar-se.
No bar da praia
O amor presta-se…
Corpos nús unem-se
Ao manto de água
Salgada – e o lençol
Agita-os languidamente
Deixando a espuma
Reter um seco odor a húmus.
No bar da praia
Afundo a cabeça
Nas mãos e um desassossego
Interior vacila infinitamente
Sem o mar poder acalmar.
As ondas tomam-me
Os pés de marés cheias
De cerrada multidão.
Néones fragmentados
Pululam esbatimento
De copos vazios
Caoticamente distribuídos
Sobre a areia burilada
Pelos pés seguidores
Dos ritmos alternados
Pelas colunas de som.
O DJ aumenta a batida.
Embalo, embalo como
Um louco contorcionista
Cujos ossos ameaçam
Desagregar-se.
No bar da praia
O amor presta-se…
Corpos nús unem-se
Ao manto de água
Salgada – e o lençol
Agita-os languidamente
Deixando a espuma
Reter um seco odor a húmus.
No bar da praia
Afundo a cabeça
Nas mãos e um desassossego
Interior vacila infinitamente
Sem o mar poder acalmar.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Balada de um Capa Negra
O infortúnio pariu um doutor.
Doutor,
O que acha da manhã?
Doutor,
Trouxe o contrato para assinar?
Doutor,
Mande-me lá esse cheque!
Doutor,
Analise e comente o que se passa.
Doutor,
Aquele carrão é seu?
Doutor,
Preciso de reunir consigo.
Doutor,
A sua esposa ligou.
Doutor,
Arrumei a sua secretária!
Doutor,
Precisa de um café?
Doutor,
O dossier desapareceu!
Doutor,
O Sr K. desmarcou a consulta!
Doutor,
O contrato está assinado.
Doutor,
O Dr. Z e o Dr. Y precisam de falar consigo.
Doutor,
Chamam-no às urgências!
Doutor,
Amanhã preciso de faltar.
Doutor,
O meu cão desmaiou.
Doutor,
As minhas análises estão aqui!
Doutor,
Por que pagamos mais impostos
E devemos cada vez mais?
Doutor,
Não temos tesouraria!
Doutor,
Há crianças com fome!
Doutor,
Por que é mais fácil construir estádios
Que hospitais e escolas?
Doutor,
Roubaste os reformados!
Doutor,
O interior do país está desertificado!
Doutor,
Os hospitais, escolas e tribunais estão a fechar!
Doutor,
E o mal que graça na justiça ?
Doutor,
K roubou 0,70 eur e foi condenado!
Y roubou 100.000.000 eur e foi condecorado!
Doutor,
Onde está a lei de mercado na água,
Luz, telefone e combustíveis?
Doutor,
Onde está o emprego prometido?
Doutor,
E o crescimento económico?
Doutor?
Por que crês na imbecilidade?
Doutor,
O que acha da manhã?
Doutor,
Trouxe o contrato para assinar?
Doutor,
Mande-me lá esse cheque!
Doutor,
Analise e comente o que se passa.
Doutor,
Aquele carrão é seu?
Doutor,
Preciso de reunir consigo.
Doutor,
A sua esposa ligou.
Doutor,
Arrumei a sua secretária!
Doutor,
Precisa de um café?
Doutor,
O dossier desapareceu!
Doutor,
O Sr K. desmarcou a consulta!
Doutor,
O contrato está assinado.
Doutor,
O Dr. Z e o Dr. Y precisam de falar consigo.
Doutor,
Chamam-no às urgências!
Doutor,
Amanhã preciso de faltar.
Doutor,
O meu cão desmaiou.
Doutor,
As minhas análises estão aqui!
Doutor,
Por que pagamos mais impostos
E devemos cada vez mais?
Doutor,
Não temos tesouraria!
Doutor,
Há crianças com fome!
Doutor,
Por que é mais fácil construir estádios
Que hospitais e escolas?
Doutor,
Roubaste os reformados!
Doutor,
O interior do país está desertificado!
Doutor,
Os hospitais, escolas e tribunais estão a fechar!
Doutor,
E o mal que graça na justiça ?
Doutor,
K roubou 0,70 eur e foi condenado!
Y roubou 100.000.000 eur e foi condecorado!
Doutor,
Onde está a lei de mercado na água,
Luz, telefone e combustíveis?
Doutor,
Onde está o emprego prometido?
Doutor,
E o crescimento económico?
Doutor?
Por que crês na imbecilidade?
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Estilhaços
Já não oiço
A volúvel voz enamorada,
Nem suporto o peso
Dos argumentos que constróis.
Tudo desemboca
Na ria da futilidade.
Este funesto ronronar
Crónico torna a tua presença
Estilhaço do espaço
Que remexemos.
As velhas vagas esbateram-se
Disso não restam dúvidas,
O sofrimento corrói
Sem esperança,
Só os advogados gracejam
À nossa porta.
A volúvel voz enamorada,
Nem suporto o peso
Dos argumentos que constróis.
Tudo desemboca
Na ria da futilidade.
Este funesto ronronar
Crónico torna a tua presença
Estilhaço do espaço
Que remexemos.
As velhas vagas esbateram-se
Disso não restam dúvidas,
O sofrimento corrói
Sem esperança,
Só os advogados gracejam
À nossa porta.
segunda-feira, 31 de março de 2014
Calçada das Letras
Chegou o Outono
Na mala do Sr Stein,
Sorridente, bonacheirão
Mas dobrado ao peso
Da viagem. Descuidou
O braço vago, e o
Seu jornal soltou
As primeiras folhas
Incentivadas pelo vento
Em plena avenida
Estival. Voaram…
Voaram até o primeiro
Carro atropelar.
Ali morreram esmagadas
Mas as palavras ficaram
Impressas no chão.
Assim nasceu
A Calçada das Letras.
Assim se perpetuam
As gentes ostracizadas.
Na mala do Sr Stein,
Sorridente, bonacheirão
Mas dobrado ao peso
Da viagem. Descuidou
O braço vago, e o
Seu jornal soltou
As primeiras folhas
Incentivadas pelo vento
Em plena avenida
Estival. Voaram…
Voaram até o primeiro
Carro atropelar.
Ali morreram esmagadas
Mas as palavras ficaram
Impressas no chão.
Assim nasceu
A Calçada das Letras.
Assim se perpetuam
As gentes ostracizadas.
sábado, 29 de março de 2014
Sedimentos Volateis
As insígnias dos ditames
Marcadas pelo ensejo
Tornado jorro de pensamento
Aberto, sufoca as camadas brutas
Da mente como chagas sobre
A esfera da rocha sacralizada.
A volátil demora dessa pressa
Inflama um insano rodopio
Imposto nas encostas frondosas
Das escarpas insensíveis
Mergulhadas na névoa
Que as reclama.
O arrojo de quem bate
Tais palavras sedimentadas
Em tinta arremessada
Contra essa tela, vê o húmus
A escorrer e derramar
Pingos no chão.
Marcadas pelo ensejo
Tornado jorro de pensamento
Aberto, sufoca as camadas brutas
Da mente como chagas sobre
A esfera da rocha sacralizada.
A volátil demora dessa pressa
Inflama um insano rodopio
Imposto nas encostas frondosas
Das escarpas insensíveis
Mergulhadas na névoa
Que as reclama.
O arrojo de quem bate
Tais palavras sedimentadas
Em tinta arremessada
Contra essa tela, vê o húmus
A escorrer e derramar
Pingos no chão.
quarta-feira, 26 de março de 2014
Trovas de embalar
Dª Ana sentada
Na porta da casa
Vigia a rua
Esguia e tortuosa.
Ninguém passa
Senão cães e gatos
Habilmente assíduos.
É meio-dia,
Avança o verão
Naquela viela.
Dª Ana estica
As pernas já
Quebradas pela idade,
E escuta as pedras
Da calçada miúda,
Da rua que passa
E que a viu nascer.
Está velha e gasta
E as paredes carcomidas
Das casas vizinhas
Assemelham-se às rugas
Que lhe investem o rosto.
A cal desmaiada
Preenche-lhe o cabelo raro
E pardacento.
Já não apregoa
No velho mercado,
A pensão chega-lhe
Pelo correio.
Nem carrega
O peso dos filhos
Que emigraram.
Toda aquela via
Está pejada de memórias
Tudo lhe é passado
Menos a ausência.
A carrinha social
Estacou… ela sorri!
O seu microcosmos
Mostra uma brecha
De contentamento,
E o negro da veste
Verte cores de emoção.
Depois despede-se
Num até breve
Esperançoso.
É tarde! A noite ligeira
Aproxima-se,
Chama por ela,
Mas não quer ouvir…
Sentada na padieira
Perscruta a rua que passa
E a rua que não quer vir.
Na porta da casa
Vigia a rua
Esguia e tortuosa.
Ninguém passa
Senão cães e gatos
Habilmente assíduos.
É meio-dia,
Avança o verão
Naquela viela.
Dª Ana estica
As pernas já
Quebradas pela idade,
E escuta as pedras
Da calçada miúda,
Da rua que passa
E que a viu nascer.
Está velha e gasta
E as paredes carcomidas
Das casas vizinhas
Assemelham-se às rugas
Que lhe investem o rosto.
A cal desmaiada
Preenche-lhe o cabelo raro
E pardacento.
Já não apregoa
No velho mercado,
A pensão chega-lhe
Pelo correio.
Nem carrega
O peso dos filhos
Que emigraram.
Toda aquela via
Está pejada de memórias
Tudo lhe é passado
Menos a ausência.
A carrinha social
Estacou… ela sorri!
O seu microcosmos
Mostra uma brecha
De contentamento,
E o negro da veste
Verte cores de emoção.
Depois despede-se
Num até breve
Esperançoso.
É tarde! A noite ligeira
Aproxima-se,
Chama por ela,
Mas não quer ouvir…
Sentada na padieira
Perscruta a rua que passa
E a rua que não quer vir.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Sinais Indolores
Em verdade,
Em verdade vos digo:
“Todo o mar agitado
Tem um porto de abrigo”
Só ao alcance da perseverança.
A fé vence a montanha
Pelo cansaço,
Os cépticos morrem
Revoltados na indefinição,
E os temerosos
Submergem ao peso
Da âncora que os
Imobiliza.
As gaivotas são sinais
Mas nem todos sabem
Distinguir a ave plana
Da nuvem de tempestade.
Em verdade vos digo:
“Todo o mar agitado
Tem um porto de abrigo”
Só ao alcance da perseverança.
A fé vence a montanha
Pelo cansaço,
Os cépticos morrem
Revoltados na indefinição,
E os temerosos
Submergem ao peso
Da âncora que os
Imobiliza.
As gaivotas são sinais
Mas nem todos sabem
Distinguir a ave plana
Da nuvem de tempestade.
quarta-feira, 12 de março de 2014
Realidade Inversa
O cubo do sonho…
Eu sonho! Sonho para
Lá do sonho…
Deslumbramento!
Desmembramento do objecto?
Que índias e brasis
O universo ainda fecha?
Quero abrir caminho,
Pintar a rota novamente
Cruzando creres atípicos.
Vasco do Gama! Hossana…
Pedro Alvares Cabral! Aleluia!!!!
Haverá alguma jangada
No rio da vontade encorada
Que contorne o plano
E encontre o desencontro?
Resta a matéria negra
Coberta por imensas grutas,
Morada de mostrengos
E de outros mitos
Que vão caindo sob
A telescópica luneta de Ciclope.
Eu sonho,
Mas além!,
No cubo perfeito.
Encontro plenitude no cruzamento
Das etéreas leis universais,
Umas feitas de pedra
Outras de ar.
Estendo os braços
De cabeça levantada
Sobre pés hirtos
E proclamo: “sonhai
Como eu sonho”.
Eu sonho! Sonho para
Lá do sonho…
Deslumbramento!
Desmembramento do objecto?
Que índias e brasis
O universo ainda fecha?
Quero abrir caminho,
Pintar a rota novamente
Cruzando creres atípicos.
Vasco do Gama! Hossana…
Pedro Alvares Cabral! Aleluia!!!!
Haverá alguma jangada
No rio da vontade encorada
Que contorne o plano
E encontre o desencontro?
Resta a matéria negra
Coberta por imensas grutas,
Morada de mostrengos
E de outros mitos
Que vão caindo sob
A telescópica luneta de Ciclope.
Eu sonho,
Mas além!,
No cubo perfeito.
Encontro plenitude no cruzamento
Das etéreas leis universais,
Umas feitas de pedra
Outras de ar.
Estendo os braços
De cabeça levantada
Sobre pés hirtos
E proclamo: “sonhai
Como eu sonho”.
domingo, 9 de março de 2014
A cigarra
Canta a cigarra
O canto final de verão
E lembra quem passa
“Piores dias virão”.
As asas trinadas
Tecem hinos a finados
No desmontar da festa
Recolhe a musa fados
Pasma-se com o saco vazio
De folguedo. Oh miséria!
Na lareia encosta o frio
Sumida em matéria.
O canto final de verão
E lembra quem passa
“Piores dias virão”.
As asas trinadas
Tecem hinos a finados
No desmontar da festa
Recolhe a musa fados
Pasma-se com o saco vazio
De folguedo. Oh miséria!
Na lareia encosta o frio
Sumida em matéria.
sexta-feira, 7 de março de 2014
A guitarra sem pressa
A guitarra
De cordas de lata
Solta gritos
E desata
Drama e garra
Circunscritos
Às cores
Dos barcos esquecidos.
Tremem-lhe as aspas
Em cadentes humores
Entumecidos.
Um delírio rasgado
Surpreende a harmonia
Do inerte nada
Na grande via
De lisura cortada
Por um velho arado.
A mão bate
No magna quente
E na volta
A torrente
Escolta
O seio escarlate.
A guitarra
De cordas de lata.
A lata das cordas
Da guitarra.
De cordas de lata
Solta gritos
E desata
Drama e garra
Circunscritos
Às cores
Dos barcos esquecidos.
Tremem-lhe as aspas
Em cadentes humores
Entumecidos.
Um delírio rasgado
Surpreende a harmonia
Do inerte nada
Na grande via
De lisura cortada
Por um velho arado.
A mão bate
No magna quente
E na volta
A torrente
Escolta
O seio escarlate.
A guitarra
De cordas de lata.
A lata das cordas
Da guitarra.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Estrada Aberta
Homens de cantar triste
Enterrai as lamúrias
Que impede a volúpia
Da noite demente
Sob os lençóis
Perversos da madrugada.
Deixai o pesar
Da natureza amarga,
Das árvores de braços vazios,
Dos cadáveres apodrecidos…
A sanidade há-de regenerar.
Cuidai de dar brilho
Ao sol e às flores amarelas
Que estrelecem o céu,
Ao canto dos pássaros coloridos
Que despertam o gozo,
Ao latir do lobo fortuito
Que revela a selva,
Ao galo distante
Que anuncia a nova ordem,
Ao gato que se enrosca
Na pacatez do tempo,
Ao corajoso que arvora
Mais um dia pleno.
Partam o vidro!... o vidro escuro!
A neblina andrajosa
Que ofusca o cais.
Não transformeis a terra alegre
Num lodaçal movediço e viscoso
Onde as cores e a música
Submerjam.
Entrai no mar
Que ele se abrirá!
Ousai desafiar a chuva
Para dela duvidardes!
Lançai-vos da janela,
Planareis de prazer!
Sonhai! Sonhai…
Que a obra nasce
Das vitórias.
Enterrai as lamúrias
Que impede a volúpia
Da noite demente
Sob os lençóis
Perversos da madrugada.
Deixai o pesar
Da natureza amarga,
Das árvores de braços vazios,
Dos cadáveres apodrecidos…
A sanidade há-de regenerar.
Cuidai de dar brilho
Ao sol e às flores amarelas
Que estrelecem o céu,
Ao canto dos pássaros coloridos
Que despertam o gozo,
Ao latir do lobo fortuito
Que revela a selva,
Ao galo distante
Que anuncia a nova ordem,
Ao gato que se enrosca
Na pacatez do tempo,
Ao corajoso que arvora
Mais um dia pleno.
Partam o vidro!... o vidro escuro!
A neblina andrajosa
Que ofusca o cais.
Não transformeis a terra alegre
Num lodaçal movediço e viscoso
Onde as cores e a música
Submerjam.
Entrai no mar
Que ele se abrirá!
Ousai desafiar a chuva
Para dela duvidardes!
Lançai-vos da janela,
Planareis de prazer!
Sonhai! Sonhai…
Que a obra nasce
Das vitórias.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Rascunho
As linhas cruzadas
Disparam touros
De hastes curvilíneas,
E do cachaço corpulento
Rústicos corvos negros
Cortam-lhe a carne mortiça.
As rosas soçobram-lhe da boca
Sobre troncos despidos
De lugares incertos,
E tomam-lhe por verde,
O verde dos campos cobertos
Pela monção de sóis semeados
Nas noites das luas de prata.
Nela os homens balançam
Como lobos dilacerados
Pelas hastes das linhas
Cruzadas dos touros
Negros de cachaço opulento.
Disparam touros
De hastes curvilíneas,
E do cachaço corpulento
Rústicos corvos negros
Cortam-lhe a carne mortiça.
As rosas soçobram-lhe da boca
Sobre troncos despidos
De lugares incertos,
E tomam-lhe por verde,
O verde dos campos cobertos
Pela monção de sóis semeados
Nas noites das luas de prata.
Nela os homens balançam
Como lobos dilacerados
Pelas hastes das linhas
Cruzadas dos touros
Negros de cachaço opulento.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Bolos & Afectos
Na pastelaria.
Teus olhos doces,
Terno o teu olhar,
Meigamente afagas a minha mão.
Brinco com a tua
Num laço que prometes ser longo.
Beberico café!... Sim, café!,
Numa réstia de chave.
Falas-me da tua semana,
Do teu emprego,
Dos desencontros…
Da rotina…
Da última notícia da tv…
Das tuas esperanças
E do horizonte
Que pretendes ser nosso.
Rodeias-me com todo o afecto,
Teus lábios brilham! Brilham de leveza!
Sussurras que me amas!,
Não vá a mesa do lado notar.
Dás-me um beijo indiscreto…
Troco outro mais profundo,
Simplesmente ousado.
Toda a planície
Tem uma lonjura
Que atravessa o cosmos
E fixa-se no infinitamente grande.
Sorris!
Saímos de mãos entrelaçadas
Para ver montras
E paisagens…
No fim da tarde, subimos
Ao último andar do shopping
Para aproveitar a penumbra
Da sala do cinema
Enquanto a tela
Passa um filme sem memória.
Teus olhos doces,
Terno o teu olhar,
Meigamente afagas a minha mão.
Brinco com a tua
Num laço que prometes ser longo.
Beberico café!... Sim, café!,
Numa réstia de chave.
Falas-me da tua semana,
Do teu emprego,
Dos desencontros…
Da rotina…
Da última notícia da tv…
Das tuas esperanças
E do horizonte
Que pretendes ser nosso.
Rodeias-me com todo o afecto,
Teus lábios brilham! Brilham de leveza!
Sussurras que me amas!,
Não vá a mesa do lado notar.
Dás-me um beijo indiscreto…
Troco outro mais profundo,
Simplesmente ousado.
Toda a planície
Tem uma lonjura
Que atravessa o cosmos
E fixa-se no infinitamente grande.
Sorris!
Saímos de mãos entrelaçadas
Para ver montras
E paisagens…
No fim da tarde, subimos
Ao último andar do shopping
Para aproveitar a penumbra
Da sala do cinema
Enquanto a tela
Passa um filme sem memória.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Chanson d´ Amour
Tarda o amor,
Segredo inverso
Crente na fátua luz…
In e explosão!!!!
Fragmento…
Aliteração…
Jogo de sombras
Ondas de rebentação…
Pó de universo esmagado,
Adormecido,
Do nada o eu sagrado
Rebenta o chão,
Cinge o sol,
Adormece
Ao de leve sobre os nenúfares
Do azul celeste.
Tarda o amor,
Quadro vazio
Tingido por um quebranto
Sombrio.
O verde campestre
Aglutina-te ao encanto.
Há-de ser passado
Tímida trajectória
Presente memória.
Tarda o amor…
Debaixo deste alpendre
Hei-de vê-lo passar.
Procurar? Encurta
Ou cava ausência?
Todo o elemento
Clama o uno universal.
Tarda o amor.
Tarda o amor
Mas não cansa.
Segredo inverso
Crente na fátua luz…
In e explosão!!!!
Fragmento…
Aliteração…
Jogo de sombras
Ondas de rebentação…
Pó de universo esmagado,
Adormecido,
Do nada o eu sagrado
Rebenta o chão,
Cinge o sol,
Adormece
Ao de leve sobre os nenúfares
Do azul celeste.
Tarda o amor,
Quadro vazio
Tingido por um quebranto
Sombrio.
O verde campestre
Aglutina-te ao encanto.
Há-de ser passado
Tímida trajectória
Presente memória.
Tarda o amor…
Debaixo deste alpendre
Hei-de vê-lo passar.
Procurar? Encurta
Ou cava ausência?
Todo o elemento
Clama o uno universal.
Tarda o amor.
Tarda o amor
Mas não cansa.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Cavalo de Tróia
o cavalo está feridO,
cavalga com um carrO
entranhado no ventrE.
sabE
que as rodaS
aumentam-lhe a velocidadE.
cuida com a caudA
a ferida... mantendO
o humano presO
ao volantE.
cavalga com um carrO
entranhado no ventrE.
sabE
que as rodaS
aumentam-lhe a velocidadE.
cuida com a caudA
a ferida... mantendO
o humano presO
ao volantE.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Desabafos
A lado o rato
Vai para a toca
Tomou remédio
Num bar da doca
Para fugir ao tédio
E ao dono da roca.
Balofo o gato
Amante de cachimbo
Expele aroma burguês
Ancorado no limbo
Torpe e soez
Tomando o cacimbo
Pelo rato cortês.
A formiga despachada
Despertou-lhe inveja
Não pelos tímidos passos
Mas pela ciência que coteja
Na marcha dos finos espaços
E do labor que graceja.
O cão inútil
Refastelado no sofá
Navega na internet
Sem grande afã
A noite deixa-o inerte
E adormece com suco de maçã
Até à hora da toilette.
Vai para a toca
Tomou remédio
Num bar da doca
Para fugir ao tédio
E ao dono da roca.
Balofo o gato
Amante de cachimbo
Expele aroma burguês
Ancorado no limbo
Torpe e soez
Tomando o cacimbo
Pelo rato cortês.
A formiga despachada
Despertou-lhe inveja
Não pelos tímidos passos
Mas pela ciência que coteja
Na marcha dos finos espaços
E do labor que graceja.
O cão inútil
Refastelado no sofá
Navega na internet
Sem grande afã
A noite deixa-o inerte
E adormece com suco de maçã
Até à hora da toilette.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
O ilusionista
Senhoras e Senhores,
Meninos e meninas
O admirável, o fenomenal… Ilusionista!
Primeiro número
Um cubo transmuta-se
Infinitamente até ao nada.
Vejam!
Palmas senhores!
Palmas!
Segundo Número
Do chapéu de coco saltam coelhos,
Tigres, camelos e elefantes!
Esplêndido!
Palmas senhores,
Palmas!
Terceiro Número
Dos olhos quietos brotam moedas,
Notas, cheques, cartões multibando,
Contas bancárias e por fim um banco comercial!
Espantoso, não é?!
Palmas senhores!
Palmas!
Quarto número
Do bolso do casaco
Aos lenços, sucedem-se lençóis,
Edredões, tapetes e por fim
Uma confecção!
Magnífico!
Palmas senhores!
Palmas!
Quinto número
A auxiliar é serrada
E embalada às postas.
Soberbo!
Palmas senhores e senhoras!
Meninos e meninas
Palmas!
Sexto número
Migração do público
Em patos!
Maravilhoso!
Batam asas!
Grasnem!
Sétimo e último número
“Perante vocês, anuncio-vos
O Vosso próximo presidente.
Votem! Votem nele! Já sabem:
“Com o ilusionista a presidente
O país vai para a frente!”
Ilusionista amigo
O povo está contigo.
Ilusionista amigo
O povo está contigo.
Ilusionista amigo
O povo está contigo.
Meninos e meninas
O admirável, o fenomenal… Ilusionista!
Primeiro número
Um cubo transmuta-se
Infinitamente até ao nada.
Vejam!
Palmas senhores!
Palmas!
Segundo Número
Do chapéu de coco saltam coelhos,
Tigres, camelos e elefantes!
Esplêndido!
Palmas senhores,
Palmas!
Terceiro Número
Dos olhos quietos brotam moedas,
Notas, cheques, cartões multibando,
Contas bancárias e por fim um banco comercial!
Espantoso, não é?!
Palmas senhores!
Palmas!
Quarto número
Do bolso do casaco
Aos lenços, sucedem-se lençóis,
Edredões, tapetes e por fim
Uma confecção!
Magnífico!
Palmas senhores!
Palmas!
Quinto número
A auxiliar é serrada
E embalada às postas.
Soberbo!
Palmas senhores e senhoras!
Meninos e meninas
Palmas!
Sexto número
Migração do público
Em patos!
Maravilhoso!
Batam asas!
Grasnem!
Sétimo e último número
“Perante vocês, anuncio-vos
O Vosso próximo presidente.
Votem! Votem nele! Já sabem:
“Com o ilusionista a presidente
O país vai para a frente!”
Ilusionista amigo
O povo está contigo.
Ilusionista amigo
O povo está contigo.
Ilusionista amigo
O povo está contigo.
sábado, 8 de fevereiro de 2014
12 Belos Poemas
A Maria amA.
…………………………
A Ana deu à luZ
……………………………
A Clarisse sorrI.
…………………………….
O António abraçA.
…………………………..
O sol está pungentE.
…………………………………
A noite caiu tépida e serenA.
……………………………….
O melro canta a alvoradA.
………………………………..
A árvore floriU.
………………………….
A flor frutificoU.
…………………………….
As borboletas paparicam as floreS.
……………………………….
O galo anuncia o novo diA.
………………………………
E tudo isto começou num charco por acasO,
Onde não havia nem pintores, nem fotógrafos, nem jornalistaS…
…………………………
A Ana deu à luZ
……………………………
A Clarisse sorrI.
…………………………….
O António abraçA.
…………………………..
O sol está pungentE.
…………………………………
A noite caiu tépida e serenA.
……………………………….
O melro canta a alvoradA.
………………………………..
A árvore floriU.
………………………….
A flor frutificoU.
…………………………….
As borboletas paparicam as floreS.
……………………………….
O galo anuncia o novo diA.
………………………………
E tudo isto começou num charco por acasO,
Onde não havia nem pintores, nem fotógrafos, nem jornalistaS…
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Ela (a duas vozes)
Lá vai ela
Com t-shirt da Florbella
Sim, lá vai ela!
Na mão leva uma Lewis Botton
Na outra um Lulu
Pela trela.
Sim, na mão
Segura uma cadela!
Os óculos BanR
Torna-lhe os olhos escuros.
Pelo sim, pelo não
Ficam mais seguros!
A anca deambula
Serena e sensual!
Magnífica! Natural!
Tingiu de oiro o cabelo
E as unhas acrescentos.
Sim! Novos argumentos!
O decote molda-lhe
Os belos seios.
Sem constrangimentos!
Sem receios!
A saia desenha-lhe
Metade da perna!
A outra meiga e terna!
Sinto-lhe o Chanel
Em final de Verão.
Toda a flor
Tem um dia sim e um dia não!
Entra num cabriolet
E descompõe-se.
Só o cão
É que não!
Com t-shirt da Florbella
Sim, lá vai ela!
Na mão leva uma Lewis Botton
Na outra um Lulu
Pela trela.
Sim, na mão
Segura uma cadela!
Os óculos BanR
Torna-lhe os olhos escuros.
Pelo sim, pelo não
Ficam mais seguros!
A anca deambula
Serena e sensual!
Magnífica! Natural!
Tingiu de oiro o cabelo
E as unhas acrescentos.
Sim! Novos argumentos!
O decote molda-lhe
Os belos seios.
Sem constrangimentos!
Sem receios!
A saia desenha-lhe
Metade da perna!
A outra meiga e terna!
Sinto-lhe o Chanel
Em final de Verão.
Toda a flor
Tem um dia sim e um dia não!
Entra num cabriolet
E descompõe-se.
Só o cão
É que não!
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Nuvens Nefastas
Não procuro a solidão
Invocando a ordem estética
Ou a natureza antropológica,
Nem me refugio na metáfora da montanha,
Nem nas esconsas grutas escavadas na Utopia.
Isto só cria monstros…
Feitos de sombras esquizofrénicas
Manietando a realidade
Sobre volumes de cadáveres.
Num desses bares comodamente
Sentados, vejo Hitler e Estaline
Jogando xadrez escudados
Nas últimas cenas operáticas
Redentoras de nacionalismos
Resgatados de um subconsciente
Morto ou adormecido.
Pressinto-os rodeados por toda
Uma pilha livresca construída
Sobre o empurrão à selecção natural
E secundado pelo super homem.
Um joga a pedra de sangue
Do seu próprio povo, o outro
Move a carcaça da sua suposta
Raça, e neste jogo assassino
Cada um tenta o maior número
De mortos para se declarar vencedor
Nos arrufos desta memória nefasta
Surgem novos profetas e arquitectos
E novas nuvens negras já se formam
No horizonte.
Invocando a ordem estética
Ou a natureza antropológica,
Nem me refugio na metáfora da montanha,
Nem nas esconsas grutas escavadas na Utopia.
Isto só cria monstros…
Feitos de sombras esquizofrénicas
Manietando a realidade
Sobre volumes de cadáveres.
Num desses bares comodamente
Sentados, vejo Hitler e Estaline
Jogando xadrez escudados
Nas últimas cenas operáticas
Redentoras de nacionalismos
Resgatados de um subconsciente
Morto ou adormecido.
Pressinto-os rodeados por toda
Uma pilha livresca construída
Sobre o empurrão à selecção natural
E secundado pelo super homem.
Um joga a pedra de sangue
Do seu próprio povo, o outro
Move a carcaça da sua suposta
Raça, e neste jogo assassino
Cada um tenta o maior número
De mortos para se declarar vencedor
Nos arrufos desta memória nefasta
Surgem novos profetas e arquitectos
E novas nuvens negras já se formam
No horizonte.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Poema
Constrói-se poesia
Erguendo paredes, palavras, sons,
Sentimentos, imagens, ritmos
E todas as janelas
Para que cada um,
No íntimo da narração
Encontre a sua.
O maior poema é aquele
Cuja janela é ampla e aberta
Para fora, e nela o horizonte
Poisa no seu parapeito.
Toda a poesia evoca asas
E rima com liberdade.
Abastece-se de palavras soltas
Da pena do poeta
Entre conteúdos, simbologias,
O eu e o eterno que abrem portas
Para fora… para dentro
Sufocariam e morreriam…
Erguendo paredes, palavras, sons,
Sentimentos, imagens, ritmos
E todas as janelas
Para que cada um,
No íntimo da narração
Encontre a sua.
O maior poema é aquele
Cuja janela é ampla e aberta
Para fora, e nela o horizonte
Poisa no seu parapeito.
Toda a poesia evoca asas
E rima com liberdade.
Abastece-se de palavras soltas
Da pena do poeta
Entre conteúdos, simbologias,
O eu e o eterno que abrem portas
Para fora… para dentro
Sufocariam e morreriam…
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Nucleo
O núcleo fragmentou-se
Em buscas derivadas
Dispersas por sons e fantasias,
Pretensões marchetadas
Sobem ruas sombrias
De pensamentos soltos e cavos.
Os ramos que vergam o vento
Torcem a realidade em estados
Instantes e anulam o alento
Nascido no lago que advém
Da terra parida. A semente
Gerou o húmus cavado além
Das flores marginais e da terra
Picada pelo uivo da serra.
Os homens do paredão
Sentados na distância
Colhem notícias de ocasião.
Soprando os barcos a maresia
Ajustam as ondas às velas
E as árvores aos cascos maduros.
O sol desmaia sobre elas
E levanta rumores escuros.
Em buscas derivadas
Dispersas por sons e fantasias,
Pretensões marchetadas
Sobem ruas sombrias
De pensamentos soltos e cavos.
Os ramos que vergam o vento
Torcem a realidade em estados
Instantes e anulam o alento
Nascido no lago que advém
Da terra parida. A semente
Gerou o húmus cavado além
Das flores marginais e da terra
Picada pelo uivo da serra.
Os homens do paredão
Sentados na distância
Colhem notícias de ocasião.
Soprando os barcos a maresia
Ajustam as ondas às velas
E as árvores aos cascos maduros.
O sol desmaia sobre elas
E levanta rumores escuros.
sábado, 25 de janeiro de 2014
Manon
Manon, que sendas
Hei-de tomar para entrar
Na tua realeza?
Serei tão ignóbil para o teu reino
Me negar a tua comunhão?
Manon, ouviu a minha súplica
E enviou a mensagem:
Cria estômagos vorazes no lugar de cabeças
E expande-os até aos pés,
Abre-lhes grandes bocas
Onde caibam todas as ambições.
Reduz os outros órgãos
Á redenção daqueles.
Ergue grandes templos, vistosos,
Onde o meu espírito facilmente
Possa ser detectado,
Multiplica a circulação do meu corpo
Do meu amado sangue.
Todos creem em mim, lembra-te disso.
Sou o pão, sou o vinho,
O alfa e o ómega, o princípio
E o fim, e a cratera donde
Brota toda a energia celeste.
Felizes os que me abraçam
E também os que nunca perderam
A fé de me encontrar!
Vê a exuberância do meu ser,
A minha mutabilidade, a flutuabilidade,
A carne do devir. Toca a minha mão
Serena, nada receies! Acredita.
Eu sou a flor dos mercados,
A mão invisível que conduz
Todo o meu fluido.
Vê quem não me alcança.
Que infelicidade! Que fatalidade!
O pecado dos pecados!
A falta que faz falta!
Não vivo pela omissão!
Não me renegues porque nunca
Terás um galo para to lembrar.
Não sofro com lamentos,
Nem comiserações e fraquezas.
O meu maior mandamento
São os resultados! Exaspero
Por resultados! Quanto maiores
Mais fluo. Estou em toda
A parte, e todos me desejam,
Mas em verdade, em verdade
Te digo, cresce e multiplica-me.
Eu sou o verdadeiro!
O que todos esperam.
O único redentor que a humanidade deseja.
Assim falou Manon.
Em seus passos me guiarei
Até à senda da sua materialidade.
Assim falou Manon.
Em seus passos me guiarei
Até à senda da sua materialidade.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
O Minho
Levanta os braços firmes
Mostra os músculos salientes,
Os punhos admiravelmente cerrados,
Balança o corpo solto,
Baila! Baila! na cadência
Da brisa soletrada pela concertina.
Alegra-te! Estás no Minho.
O Minho do verde espampanante,
Do corte agreste mas idílico dos montes,
Do casario semeado pelas encostas
Das manhãs vigorosas e ledas
Saídas das mãos de um mestre pintor.
Olha as festas! As grandes romarias!
As procissões com os seus santos
Galantemente vistosos.
O Minho dos rios soberbos
Que rasgam a paisagem
E amaciam o verão árido,
Cumulativamente jovem e terno.
O verde da água que escorre
E corre das fráguas recônditas
E que verte das videiras
O primeiro outono servido a Baco.
Mostra os músculos salientes,
Os punhos admiravelmente cerrados,
Balança o corpo solto,
Baila! Baila! na cadência
Da brisa soletrada pela concertina.
Alegra-te! Estás no Minho.
O Minho do verde espampanante,
Do corte agreste mas idílico dos montes,
Do casario semeado pelas encostas
Das manhãs vigorosas e ledas
Saídas das mãos de um mestre pintor.
Olha as festas! As grandes romarias!
As procissões com os seus santos
Galantemente vistosos.
O Minho dos rios soberbos
Que rasgam a paisagem
E amaciam o verão árido,
Cumulativamente jovem e terno.
O verde da água que escorre
E corre das fráguas recônditas
E que verte das videiras
O primeiro outono servido a Baco.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Não passes
Não passes o meio-dia
Sob o manto roto de um carvalho
Roído pela traça do tempo.
Víboras invisíveis tecem o visco
Que as velhas aduncas
Aspergem pelos caminhos
Em noites de lua cheia.
Nem passes nas redondezas dos cemitérios,
Cada árvore, cada planta, cada pássaro traz
Uma alma sedenta de libertação.
E quando vires uma árvores curvada
Rumorejando as folhas, estão
Os teus antepassados perguntando
Por ti e pelos que já amaram.
Nem passes nos umbrais dos grandes pórticos
Ocultos nas cidades adormecidas
Cujos centros contêm altares
E no centro do centro
Sentados em metáforas os poetas
Vão discorrendo, mas tu não
Os ouves. Encosta o ouvido
Ao solo, a terra é fresca e árida
Mas a humidade contem as tais
Palavras que geram árvores,
Montanhas, planetas e o girar do sol
na busca de cavalos fecundos.
Aprende o trilho das quiméricas
Sendas que aqueles tecem
para lá dos homens. Sente o céu
que lhes desliza pela áurea crepuscular,
Em torrentes de azuis e de violáceos.
Dos teus matizes tu já não quererás
Saber porque todas as portas
Se encontrarão franqueadas.
Sob o manto roto de um carvalho
Roído pela traça do tempo.
Víboras invisíveis tecem o visco
Que as velhas aduncas
Aspergem pelos caminhos
Em noites de lua cheia.
Nem passes nas redondezas dos cemitérios,
Cada árvore, cada planta, cada pássaro traz
Uma alma sedenta de libertação.
E quando vires uma árvores curvada
Rumorejando as folhas, estão
Os teus antepassados perguntando
Por ti e pelos que já amaram.
Nem passes nos umbrais dos grandes pórticos
Ocultos nas cidades adormecidas
Cujos centros contêm altares
E no centro do centro
Sentados em metáforas os poetas
Vão discorrendo, mas tu não
Os ouves. Encosta o ouvido
Ao solo, a terra é fresca e árida
Mas a humidade contem as tais
Palavras que geram árvores,
Montanhas, planetas e o girar do sol
na busca de cavalos fecundos.
Aprende o trilho das quiméricas
Sendas que aqueles tecem
para lá dos homens. Sente o céu
que lhes desliza pela áurea crepuscular,
Em torrentes de azuis e de violáceos.
Dos teus matizes tu já não quererás
Saber porque todas as portas
Se encontrarão franqueadas.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Sombras
A vida. Sombras
Tornadas luz, néones,
E todas as cores
Que a memória da estrada
Percorrida retém do esmorecimento.
As sombras humedecidas
Pela ira, tornam-se assombrações.
E as assombrações precipitam
A descrença na humanidade
Debastando os lírios dos campos
E tornando a terra fértil
Num pus escarlate.
Vede os ninhos cremados,
Os pássaros caídos, o touro
Com as patas traseiras cravadas
Na boca. São ismos. São sombras.
Olhos cavados, rostos esvaídos
À mingua de pão, ramos retorcidos,
Barrigas insufladas de miséria.
E a matéria? dos braços
Caídos sobre rochas mutiladas.
São sombras caladas pela hipocrisia.
Sombras dos túmulos aperaltados,
Esse esgoto galante
Que consome uma nação
Vergado ao vexame da mão calcinada.
São sombras. Sombras!
Pesadas as pedras!, os pesos
Acorrentados ao povo
Que se afunda lentamente
Num lodaçal que não engendrou.
Pedem-lhe um sorriso nos lábios!
Grande! Bonito! Perfeito!
Para ficar algures num recôndito
Sado- museu. São sombras!
Minhas! Tuas! Nossas! Vossas!
Levanta-te, ó meu povo! Afasta
A tempestade! Abre as carcaças
Das nuvens e apaga as tuas sombras!
Julga os teus traidores! Julga e condena!
E afasta a derradeira sombra
Que te volatiliza: a culpa colectiva.
Essa não existe! O dolo tem rosto,
E tu conheces-lho,
Vê-lo todos os dias à tua janela.
Mas eles não te vêem…
São sombras! … E as sombras
Só te pedem o precipício.
Tornadas luz, néones,
E todas as cores
Que a memória da estrada
Percorrida retém do esmorecimento.
As sombras humedecidas
Pela ira, tornam-se assombrações.
E as assombrações precipitam
A descrença na humanidade
Debastando os lírios dos campos
E tornando a terra fértil
Num pus escarlate.
Vede os ninhos cremados,
Os pássaros caídos, o touro
Com as patas traseiras cravadas
Na boca. São ismos. São sombras.
Olhos cavados, rostos esvaídos
À mingua de pão, ramos retorcidos,
Barrigas insufladas de miséria.
E a matéria? dos braços
Caídos sobre rochas mutiladas.
São sombras caladas pela hipocrisia.
Sombras dos túmulos aperaltados,
Esse esgoto galante
Que consome uma nação
Vergado ao vexame da mão calcinada.
São sombras. Sombras!
Pesadas as pedras!, os pesos
Acorrentados ao povo
Que se afunda lentamente
Num lodaçal que não engendrou.
Pedem-lhe um sorriso nos lábios!
Grande! Bonito! Perfeito!
Para ficar algures num recôndito
Sado- museu. São sombras!
Minhas! Tuas! Nossas! Vossas!
Levanta-te, ó meu povo! Afasta
A tempestade! Abre as carcaças
Das nuvens e apaga as tuas sombras!
Julga os teus traidores! Julga e condena!
E afasta a derradeira sombra
Que te volatiliza: a culpa colectiva.
Essa não existe! O dolo tem rosto,
E tu conheces-lho,
Vê-lo todos os dias à tua janela.
Mas eles não te vêem…
São sombras! … E as sombras
Só te pedem o precipício.
domingo, 5 de janeiro de 2014
Secreta História
Quando morreres
Manda plantar uma árvore
Sobre a tua tumba.
Espera a chegada da primavera
E de todas as primaveras
Derramadas no pulsar do sol.
As suas longas raízes hão-de
Morder-te a fronte. Então
O teu espirito regressará
Á selva dos vivos.
Grandes bandos de estorninhos
Formar-se-ão ao meio dia
E toda a terra há-de lembrar-se
Daquele que findou e procurará
Aquele que há-de vir.
Partirás no meio deles,
Amparado no esboço das suas asas
Cortantes porque sabem
Que a tua espera é uma
Demora eterna.
Quantas viagens como estas
Já não aconteceram?
Novas neves hão-de ferver
Nos moinhos cavados
Nas entranhas da terra
E a sua mó, redonda como
O eixo do universo, libertará
A tua memória rodando
Incessantemente até colorir
O céu de pó branco, pedra celeste.
Esse pó – incenso, mirra e ruinas
Do teu outro que foi – brotará
Dos bicos das aves libatórias
E formará a matéria
Que os deuses determinaram
Para voltares a ser Homem.
Um novo ciclo para ti começa.
Tu matéria, tu espírito, tu verbo,
Tu sujeito e persona, tu frase,
Tu vida – história secreta
Mas nem por isso redundante
Por que toda a história do homem
Ignoro não se encaixa
Na quadratura dos registos.
Manda plantar uma árvore
Sobre a tua tumba.
Espera a chegada da primavera
E de todas as primaveras
Derramadas no pulsar do sol.
As suas longas raízes hão-de
Morder-te a fronte. Então
O teu espirito regressará
Á selva dos vivos.
Grandes bandos de estorninhos
Formar-se-ão ao meio dia
E toda a terra há-de lembrar-se
Daquele que findou e procurará
Aquele que há-de vir.
Partirás no meio deles,
Amparado no esboço das suas asas
Cortantes porque sabem
Que a tua espera é uma
Demora eterna.
Quantas viagens como estas
Já não aconteceram?
Novas neves hão-de ferver
Nos moinhos cavados
Nas entranhas da terra
E a sua mó, redonda como
O eixo do universo, libertará
A tua memória rodando
Incessantemente até colorir
O céu de pó branco, pedra celeste.
Esse pó – incenso, mirra e ruinas
Do teu outro que foi – brotará
Dos bicos das aves libatórias
E formará a matéria
Que os deuses determinaram
Para voltares a ser Homem.
Um novo ciclo para ti começa.
Tu matéria, tu espírito, tu verbo,
Tu sujeito e persona, tu frase,
Tu vida – história secreta
Mas nem por isso redundante
Por que toda a história do homem
Ignoro não se encaixa
Na quadratura dos registos.
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