quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Sombras

A vida. Sombras
Tornadas luz, néones,
E todas as cores
Que a memória da estrada
Percorrida retém do esmorecimento.
As sombras humedecidas
Pela ira, tornam-se assombrações.
E as assombrações precipitam
A descrença na humanidade
Debastando os lírios dos campos
E tornando a terra fértil
Num pus escarlate.
Vede os ninhos cremados,
Os pássaros caídos, o touro
Com as patas traseiras cravadas
Na boca. São ismos. São sombras.
Olhos cavados, rostos esvaídos
À mingua de pão, ramos retorcidos,
Barrigas insufladas de miséria.
E a matéria? dos braços
Caídos sobre rochas mutiladas.
São sombras caladas pela hipocrisia.
Sombras dos túmulos aperaltados,
Esse esgoto galante
Que consome uma nação
Vergado ao vexame da mão calcinada.
São sombras. Sombras!
Pesadas as pedras!, os pesos
Acorrentados ao povo
Que se afunda lentamente
Num lodaçal que não engendrou.
Pedem-lhe um sorriso nos lábios!
Grande! Bonito! Perfeito!
Para ficar algures num recôndito
Sado- museu. São sombras!
Minhas! Tuas! Nossas! Vossas!
Levanta-te, ó meu povo! Afasta
A tempestade! Abre as carcaças
Das nuvens e apaga as tuas sombras!
Julga os teus traidores! Julga e condena!
E afasta a derradeira sombra
Que te volatiliza: a culpa colectiva.
Essa não existe! O dolo tem rosto,
E tu conheces-lho,
Vê-lo todos os dias à tua janela.
Mas eles não te vêem…
São sombras! … E as sombras
Só te pedem o precipício.

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