domingo, 5 de janeiro de 2014

Secreta História

Quando morreres
Manda plantar uma árvore
Sobre a tua tumba.
Espera a chegada da primavera
E de todas as primaveras
Derramadas no pulsar do sol.
As suas longas raízes hão-de
Morder-te a fronte. Então
O teu espirito regressará
Á selva dos vivos.
Grandes bandos de estorninhos
Formar-se-ão ao meio dia
E toda a terra há-de lembrar-se
Daquele que findou e procurará
Aquele que há-de vir.
Partirás no meio deles,
Amparado no esboço das suas asas
Cortantes porque sabem
Que a tua espera é uma
Demora eterna.
Quantas viagens como estas
Já não aconteceram?
Novas neves hão-de ferver
Nos moinhos cavados
Nas entranhas da terra
E a sua mó, redonda como
O eixo do universo, libertará
A tua memória rodando
Incessantemente até colorir
O céu de pó branco, pedra celeste.
Esse pó – incenso, mirra e ruinas
Do teu outro que foi – brotará
Dos bicos das aves libatórias
E formará a matéria
Que os deuses determinaram
Para voltares a ser Homem.
Um novo ciclo para ti começa.
Tu matéria, tu espírito, tu verbo,
Tu sujeito e persona, tu frase,
Tu vida – história secreta
Mas nem por isso redundante
Por que toda a história do homem
Ignoro não se encaixa
Na quadratura dos registos.

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