Não passes o meio-dia
Sob o manto roto de um carvalho
Roído pela traça do tempo.
Víboras invisíveis tecem o visco
Que as velhas aduncas
Aspergem pelos caminhos
Em noites de lua cheia.
Nem passes nas redondezas dos cemitérios,
Cada árvore, cada planta, cada pássaro traz
Uma alma sedenta de libertação.
E quando vires uma árvores curvada
Rumorejando as folhas, estão
Os teus antepassados perguntando
Por ti e pelos que já amaram.
Nem passes nos umbrais dos grandes pórticos
Ocultos nas cidades adormecidas
Cujos centros contêm altares
E no centro do centro
Sentados em metáforas os poetas
Vão discorrendo, mas tu não
Os ouves. Encosta o ouvido
Ao solo, a terra é fresca e árida
Mas a humidade contem as tais
Palavras que geram árvores,
Montanhas, planetas e o girar do sol
na busca de cavalos fecundos.
Aprende o trilho das quiméricas
Sendas que aqueles tecem
para lá dos homens. Sente o céu
que lhes desliza pela áurea crepuscular,
Em torrentes de azuis e de violáceos.
Dos teus matizes tu já não quererás
Saber porque todas as portas
Se encontrarão franqueadas.
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