terça-feira, 30 de abril de 2013


A noite.

No silêncio quieto
Da rua escura
As sombras lançam-se
Sobre mim como
Ramos nús
Pretendendo aconchego.

Oiço o quebrar da solidão
Pelo ronco dum carro que passa,
Pela janela que se abre
E alguém grita
Um gemido inverne
Sem nexo…

Dois corpos incandescem
Entrelaçados
À luz do candeiro.
Desenham silhuetas
E partem como se
O destino desembocasse
Ali e mais além.

Um gato
Rompe uma cerca
Fita-me na escuridão
E prossegue em seu jeito
Selvagem.

 À noite.
O Conselho de Administração
Da PRODUTORA de Cisnes
Decidiu a renovação da gama de aves:
50% nasceriam negros
25% vermelhos
20% azuis
4% multicores
E a súmula: 1% dourados.
Para certos sectores de mercado
Alguns apresentarão um estampado,
À medida do requinte do cliente.
Outros apresentarão quatro patas,
Outros quatro asas.
Os mais radicais terão multipatas.
Mas todos serão desprovidos
De penas.

A isto acrescerá um Kit de sabores.

“O mercado exige um passo à frente
Da Concorrência.Temos a patente
Registada”, dissertava um obstinado
Decisor.

A direcção de marketing
Sustentava aquele  arbítrio
Num relatório sem paralelo,
Pejado de estatísticas, gráficos,
Fotografias, tendências,
E supostas necessidades
Do consumidor, resguardado
Ainda em conjecturas,
Análise Swot e sem esquecer
A explanação da teoria dos 7 P´s.
A acção das vendas já estava
Em marcha, os protótipos
Foram bem recebidos.

A direcção financeira
Aventou as necessidades
De investimento, mas contrapôs
Lucros e promissores cash-flows.
Para financiamento propôs
Um empréstimo bancário
Cujo risco da taxa de juros
Seria coberto por uma swap.
Lucros excessivos impunham
Uma empresa sediada
Num offshore.

A direcção de produção
Inventariou as instalações,
As máquinas, os processos,
Os inputs e a localização.
Os primeiros testes
Correram muito bem.
 
Doravante,

Um cisne preto não fará
Ruir a incredulidade.
Nem a sua descoberta
Um fenómeno ao alcance
de alucinações.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Quadrados
Aos quadrados.

Quadrados justapostos.
Quadrados perpendiculares.
Quadrados sobrepostos.
Quadrados lineares.
Quadrados.

Quadrados invertidos.
Quadrados extrapolados.
Quadrados extrovertidos.
Quadrados.

Quadrados estropiados.
Quadrados atrevidos.
Quadrados empalados.
Quadrados.

Quadrados marginais.
Quadrados espaciais.
Quadrados desiguais.
Quadrados universais.
Quadrados a mais a mais.

Eu vivo num quadrado.
Em quadrados todos nós vivemos
E os nossos problemas
São quadrados.

Mas,
A raiz quadrada
Dos quadrados
É a eternidade
A raiz quadrada
da humanidade
É o Homem.
A raiz quadrada
Do criador
É o universo.
A raiz quadrada
Do absoluto
É o humilde verso.

A raiz quadrada
da Vida
É o sofrimento.
A raiz quadrada
do sofrimento
É a morte.
A raiz quadrada
da morte
É o eterno retorno
Ao quadrado.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Trovas
Palavras
Logosl...
Espinhos
Que lembram lanças.

Pétalas
Aromas
Voluvel carmim
Tez
Espasmos
De rubras
Danças.
Rosas.
Flores que pulsam a alcova
do pretérito perfeito.
Aspergem
O máximo afecto
Em correntes de admiração.

Brotam em jardins!
Flamejam em catedrais!
Pululam em oceâneos!

Que seria da maresia
Sem o seu rubor!

Eu gosto de rosas bravas
Que repousam em
Canteiros incertos
E ardem em noites vadias.

É vê-las na escuridão
Hirtas de clamor
Baloiçando
Tomadas pelo frenesim.

Ah! Rosas,
As rainhas das flores,
Também lamentam
As chagas
E o tempo tolhido
No recobro da Primavera.

segunda-feira, 15 de abril de 2013


Elisa
Desliza
Em contramão…
Desliza!
Elisa!

Ergue o estio
Descontraidamente
Liberto.
Aberto!

A noite,
Elisa,
É amiga
De todas as canções.
Zurze a tua!
Embala a Lua!

Sem camisa
O rio murmura-te
De frémito.

Sem mós
Os moinhos vão tocando
As margens presas
Nas águas seguras
Que buscas.

Partamos
Para o Oriente
Cobertos pela fragância
Das folhas secas
Que medeiam o outono.

Quando lá
Chegados,
Ouve, Elisa,
Nem todas as canções
Tornam a noite clara
E a madrugada enxuta.

O poeta,
Semeador meticuloso,
De mão concava e astuta,
Joeirou letras nos campos do nada.
Na manhã pós sonho
Apreciou a construção das frases
Numa criação que rimava

O U germinou Universo
O P germinou Planeta
O T germinou a Terra
O M germinou o Mar
O C germinou o Céu
O D germinou o Dia
O N germinou a Noite
O S germinou os Seres
O H germinou o Homem

Deus que descansava
Desde o sétimo momento,
Leu o prosélito do intencionado
Bardo… e sorriu
Em anuência.

terça-feira, 9 de abril de 2013

No silencio do olival
A ramagem bate-se
Pela aragem fresca, e
Pelas novas que sopram
Além Pirenéus.

Os ramos, quais mãos!,
Baloiçam em ondulantes
Insinuações.

O preto da folhagem
Esconde as pupilas
Que vigiam as estrelas,
Noite após noite.

As estrelas, em novembro,
Mugidas pelas sacerdotisas,
Vertem ouro
Derramam luz.
Sob a abobada
Celeste que deambula
A catedral
Rompem em catadupa
Tonificantes corvos.

Tonitruando
Em relâmpagos compungidos
Absolutizam a ordem
Inversa do universo.

Oh aroma do mau agoiro!
Oh grilhões que
Rompem os calcanhares!

Os corvos circulam
Em bando
E matizam o absoluto.

Sobre o pórtico de Auschwitz
A Humanidade escreveu
“Assim falava Zaratrusta”

domingo, 7 de abril de 2013

In Génesis

A maçã
Que Adão trazia no bolso,
Não foi furtada ao paraíso,
Da  árvore da sabedoria,
Foi a Caixa do Hipermercado
Que lha ofereceu,
Por acaso chamada Eva.

Adão e Eva
Desistiram da queda.
Trazem sacos de maçãs
Para casa
E nem por isso ficam
Em traje de figueira.

Adão e Eva
Também já não vivem no etéreo Jardim,
Aliás tornou-se numa floresta
De torres de betão,
Sulcada por auto-estradas
Compraram um modesto apartamento
No 15º Andar, fracção E,
Do Prédio n.º 456
Da Avenida da Liberdade
Da cidade ……….
De País ………….
Para o qual contraíram
Um empréstimo no banco Z.

O Curador do Pomar,
Dizem, “empresário de sucesso”,
Exporta maçãs e fruta exótica.
Tem uma grande mansão,
Um BMW e dois Ferraris
E várias contas na Suíça.
É accionista do banco Z
Membro honorário do Partido Y
E Comendador da Ordem X
(Para além de amigo
Do presidente e doutros
Caciques locais)

[X,Y,Z] – Por razões de confidencialidade,
Jurada, não vos posso revelar.
A tecnologia agita
Rudimentos do quotidiano
Que exaspera em velocidade
Na razão do acelerador.

 

A mecânica brame
Combustão, colocando
Em marcha um esqueleto ferroso
E transmigra-nos do espaço,
Outrora símbolo, voga,
Para a ultra-dimensão do devir.
Os montes que moldam meus olhos
Em abrasivos seios redondos
Despertam o calor do meio-dia.

Bate o sol na estrada
Raia o espaço submerso
Prenhe de luz
E esquálido de quotidiano.

Desce uma sombra erma
Pela rua combalida
E traz um velho na algibeira
De passado amarrotado
E aura vencida.

No oposto sentido da estrada
Avança um gabião de plumas adornadas.

Meu caro amigo,
Onde vais em burro tão aleivoso?
Bater em moinhos de vento?
Desembainha a tua espada
Nesta íngreme estrada
Que a quimera ainda vai longe!
Homem em livre pedra
Assenta a flor da madrugada
E abre a cidade sobre planos verticais.
Nesta sequência do cubo / paralelepípedo
Traça rectas severas e astutas
Sobre as quais encolhe o  tempo.

No alto da sua vontade
Colhe o céu azul celeste
E deambula pela floresta
Em Outono sombrio
Cujo semblante carregado
Faz transbordar as fontes
De negro queixume.
Tardes emersas em flores frugais
Rodadas na abóbada azul do tempo
Onde o portento Minotauro,
Em serpente, enrola as abcissas
Do protectorado celeste.
Ali campeia em ardil sossego
Com a cauda em haste levantada.
E o Homem no seu dorso agitado
Resgata à pequena metáfora
O poiso, os sentidos.

 
Nessa prece cinzelada a negro
O canto mudo da eternidade
Desenha a linha, perene trago,
Em que a natureza se esvai
E o sonho pontifica.
Agreste ave que rodeia o espaço
Empurrando o Minotauro
Com o rastejar das suas asas inflamadas.
Qual grifo! Em suas tenazes
Segura o Homem do dorso combalido.

Amanhã volta a este recanto,
Traz o lilás e o carmim,
E a natureza que ferve em mim
E me liberta este canto.

Jorra em meus braços
As veredas das serpentes aleivosas,
O néctar das mil rosas
Que faz-me noites em pedaços.

Construamos uma ponte
Figura lata de papel
Sonhemos um povo
- O renascido Homem Novo.

Tracemos uma estrada
Despida de ambição
Sem curvas de vida
- De fronte erguida.

Haverá uma nova cidade
De sorriso largo
Amparada em novos sóis
E numa entrega
Fraterna.

O Homem Novo virá!
Sairá de mim e de ti…

Trará na mão direita a luz
Na esquerda a paz.
Saía de teus lábios poesia
Inspirada nas verdes labaredas
No sol quisto de um Inverno sombrio
E nesse grande lago
Em que as potestades gregas
Todas as manhãs se banham.

Bebida dos deuses do Olimpo
Ébrio paladar desses amotinados
Que perante a cobiça  ignóbil humana
Deixaram esmorecer as portas de Tróia.

Bebiam meus lábios essa água
Em longos tragos versejantes,
E Helena lamentava em mim
O triste fado que lhe ainda arresta o coração.

Entrei no teu jogo,
Verti lamúrias
Subindo à pupila desses pomos
Observando um passado
Que não se atreveu no ser.
Ah, coração quanto te atreves!

Era o sonho, perpétuo corrupio,
Ora tragando a madrugada
Num final da tarde,
Ora acrescentando a Primavera
Num sono de Verão.

Nós florescemos
Em caminhos separados
Rendidos ao flamejar da ventura
Pois procuraste o Sol no poente
E descalço, adormeci no lado oposto.

Não há tambores, nem suave melodia
Nem marcha agoirenta, apenas breves lampejos
Quando te vi bailando agitada.

Quis o até breve
Subjugado a esse eterno pousio
Romper-se em micro instantes
E voltar a revigorar os mastros adormecidos.
Ah chama! Ah Lava! Ah …
Escusada cotovia!
Tão terna melodia.


No entanto,
Trago amargo!,
Repetiste o até depois.
Fiquei de mão estendida
Vociferei o nunca mais.
Nos picos do Outono
As águas desprendem-se dos cachos
E, avolumam o néctar dos rios
Amordaçados em peliças de carvalho.

Este aleivoso néctar
De tamanho enfado humano
Traz a neblina
Nos ramos de arenito.

E a voz que te chama
Por espasmos da natureza alucinante
Robustece a essência
O devir e a existência.

Grita! pelo teu nome
E hás-de ver sobre o limbo do infinito
Um homem do outro lado do rio
Preparando o teu barco, içando a tua bandeira.
Entra luz pequenina
E exala a esfera lilás que te expande
No rubor da natureza viva.

Joga as cores do arco íris
Em lanças da memória pura
Prescrita num céu intemporal

E, descerra uma lápide
Sobre os pueris anos que perscrutas
Rompendo da madrugada
A que cedo desponta
Sob tuas asas renovada.
A evolução do homem traduz-se
Na complexidade do modo operando
Para sobreviver…

O Homem sujeito à natureza
De servidão profunda,
Partiu as amarras…
Prendeu a natureza
Por mais agreste
E agitada.

No estio político,
Doravante
a lucidez e estupidez
Caminham como mesmo semblante.
O pretérito, O predicado, O verbo…
Digamos A Palavra,
São alarves bijutarias
De entretimento do povo.

O desejo de um iluminado


Adorava o absoluto,
A verdade…

 
Que rumo para o Homem?
A prisão!
A languidez do vento varre as colinas,
As chaminés vociferam fumo,
E nas árvores despidas
Os pássaros volteiam no agitar da ramagem,
O frio amedronta-lhes as asas,
“É Inverno”, balbuciam.

Cai neve! É Inverno! É Inverno!
Só, vou gelando numa quimera
que não chegou ao fim.

Oh! Cedo me precipitei
Nesse caminho torpe
Inventado não sei por quem,
Vi-o por uma fresta,
Segui uma voz que chamava
E caminhei… caminhei.

É Inverno! Oiço as vozes desses matizes
Que anseiam a primavera,
E eu?

Repito a canção:Cai neve! É Inverno! É Refrão.

 

Escondido no limbo,
O amor se esvai, se esvai…

A amante já não o deseja,
Boceja ao ouvi-lo mencionar,
E ri-se com tal enfado.
Tal?! foi uma falácia!,
Um engano!, anos depois
de vê-lo a arder…

Matei-o numa manhã
Quando o telefone tocou, disse,
Uma outra mo exigiu!
Deixemos a memória plena de vicissitudes,
A pieguice  das palavras que anotam
Que as palmeiras secaram,
O Rei foi deposto
O outro  o será amanhã,
E o Decreto será rectificado
Por outro  a redigir.

Coloquemos o sol no seu devido lugar,
De manhã a Nascente
À Tarde a Poente,
E todos os dias revezemo-nos
Nesta tarefa comunitária.

O húmus correrá no rosto,
Poeirento de azul celeste
Nas portas da vida
Abertas de par em par.
Gostava de voltar atrás,
Mergulhar no rosto de criança,
Para acender a luz que jaz
Ao gritar ao mundo Mudança!

Mas nesse rosto de criança
O Homem não Mendiga,
Deixou a rua, a lança,
A maleita e a intriga.

Ah!... Nesse rosto de criança.
Paredes nuas de betão
Sobre a cidade debruçadas
Num espaço sobreposto
Por gente que corre no fugaz
Acelerador do Tempo,
E inventa, inventa que sente.

Cada casa não tem cor,
Cada cor não tem  cara,
Cara que vai e vem
Na pressa de não chegar atrás,
Marcada pelo ritmo do aço.

Não sei quem tu és,
Também não interessa,
Não me preocupa!,
De manhã olho-me ao espelho
E à noite confirmo-o
Neste recanto
Em que me arrumo.

Doente, meu povo,
Neste hospício enfermo,
Velo por mim e por vós.
Velo por tudo
E com tudo,
Nunca te lembras
Do nós.
Olha esse povo! Sobre o mar
Debruçado, a última caravela
Já partiu... ele ainda aqui soçobrou.

Levanta esses olhos
Por Portugal adentro,
E agita essas papoilas
E os cravos que murcharam.

Mostra-me esse pão
E essas rosas
Que mirram o povo.

Abre os olhos
E esquece o lamento
Do não.
Ah! Nesse teu olhar
Esqueço que o vazio já foi tempo,
E o séquito também passou.
Ah! Nesse teu olhar
Abunda o ledo e os madrigais.

Ah! Nesse teu olhar
Sinto-me perdido entre o ser,
E o dever, entre a paixão.
Os chacais surgem ao entardecer,
Volvida a angústia,
E sentados nas aluviais planícies
Prescrutam a vontade que nasce
E a mansidão que os consome.

Eu sei que sou eu,
És tu, somos nós,
E todos juntos.
As planícies  secam de inércia
E  voltamos ao passado
Em desassossego.
E esquecemo-lo
Mesmo quando se poisa
na nossa fronte.
Nas manhãs de nevoeiro
Tantos sebastiões dão à costa
Uns trazem promessas
Outros alimentam certezas...
Quando o sol afronta o poente
Desfalecem em extensos areais.

Procuram enterrar o pé na areia
Fitando as pegadas
Mas o mar revolve a areia
E novos sebastiões dão à costa.
Debaixo de um penedo
Corre a água mais fria
Que o Inverno inventou, mais
Humana que a névoa,
Degolada pela aurora
Que os homens abrem nas avenidas.
O junco que se aperta,
No dorso de um cavalo peregrino, grita!
e agita as águas
Profundas como o ser.

Quando a cegueira bate à porta
Depois do meio dia
Corre com a primavera
das andorinhas e dos ardis dos canaviais.
Só oiço quimeras
Sem estrofe e sem verso
Presas nos beirais.


Envolvo o rosto na vidraça
E o mar desfalece

Passam gaivotas de folhas caídas
Sobre teu ventre, e se esvai o mar
Que alonga a vida, breve e vazia,
Como a lua esquisita na escuridão
Embalada pelo despontar da manhã.

Morro em teus braços
Bramindo o vento que os acolhe
Subtraindo à tempestade os barcos
Das índias perdidas.
Absorvo o teu breve instante
E acendo a chama dos olhos hirtos
Dos ouvidos que sussurram os lugares
Da tês que amamenta os sentidos.

Foste tua mas já não és minha
Eu sempre serei o teu que passou
E o teu que virá,
Sem janelas, sem postigo.

Jamais serei eu...
Jamais tu serás
Eu serei sempre por ti.

Na pedra corto as palavras
Em cinzeladas sob a luz do sol.
Dito sentido colorindo-lhes
O rosto com pinceladas
De suor vertidas nas mãos
Encanecidas.
Elas são a fonte,
Nós a sede.
Devolvei-as à liberdade.

Poiso sobre tuas mãos
O meu corpo em teu envolvido
Nesta dança que me devolve o aperto
E me bato contra as ondas
Rasgando o estio.

Poiso sobre tua face
Meu corpo em teu enjeitado
Volvo a matina
Num amanhecer constante
Como portas que estremecem
No fluir da alquimia.

Absorto em teus sentidos
Meu espírito se alenta,
Cortado em rodopios
Fazendo agir
Sobre um beijo profundo
A lírica das palavras subentendidas.

Estou aqui á tua procura
No teu quarto, na tua cama,
Junto de ti, eu que te aqueço!,
E tu acendes um cigarro algures

Entre vontades.

Por que não hei-de ser pássaro!
Neste esvoaçar de asas cortadas.
Eu contra o vento me atiro!

No cais da aurora
Procuro encontrar a verdade.
E todos os dias volto ao mesmo cais,
Ao mesmo mar, aos mesmos barcos
Sem encontrar horizonte.

Vejo no latir das avenidas
Os uivos dos lobos enternecidos
Com o tempo que não lhes pertence.
Voltam-se para os pés que mal sentem
Imolados num amanhã
Que se repete.

Sem Titulo


Deixa meus braços tocar em teus sonhos
Como pétalas atiradas ao vento,
Esvoaçando no aquém
Sobre as asas que quero minhas.

Deixa-me cheirar as açucenas
E o aroma que embala meus lábios
Nesse gosto perpétuo
Que a saliva leva e traz.

Deixa-me encostar o meu
Querer em teu encanto
Despertar o teu espartilho
E colocá-lo no meu ventre.

Deixa-me voltar sempre ao teu querer.