Fala-me de amor!
Entrelaça-me as mãos
Tão calejadas
Do dia a dia que acontece
E nos acompanha…
Fala-me de amor!
Que parte das tuas mãos
Queres para mim?
Abro-te o dia das minhas
Exalando o perfume
Das manhãs que te dou.
E esse verso? Esse verso
Que dobra a vida em romance?
Tu o conheces de cor. Eu também.
Fala-me de amor!
Do peito esventrado
De entranhas gastas,
E de todas as grutas
Escuras que revelam
A tua claridade.
Fala-me de amor!
O som perene que busca
As alturas num sem perfeito,
Mas pungente
Para atravessar montanhas
E percorrer sendas
Que à partida esmoreceriam
Na alameda da inutilidade.
Fala-me de amor!
Das palavras lançadas
Como selo das vontades.
Na verdade nós quisemos,
Desejávamos. Como desejávamos!
Fala-me de amor!
Dos jogos que me fizeste
Entrar, lendo baixinho
As entrelinhas do silêncio
E a efervescência pueril
Da rua por nós murada.
Fala-me de amor!
Da palavra que não guarda
Apenas passado, nem se
Esbateu com a tempestade
De todas as primaveras criadas.
Sei que é outono, a lareira
Acesa ainda liberta faúlhas
Para os longos invernos
Que se adivinham.
Fala-me de amor!
Nós amámos a primavera
E o louco verão do prazer.
Não podemos ganhar
Vales tenebrosos,
Nem dobrar as esquinas
Da insalubre veneração.
Fala-me de amor!
Dos teus lábios serenos,
Pulsar férreo e duradouro
Em que me deito e sonho.
Sonhamos…
Fala… fala-me de amor,
E embala-me em teus ramos
Fala-me de amor!
Fala-me de amor!
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Árvore de Parede
No papel nasceu uma árvore
De rama vermelha,
Tronco roliço,
Vestindo de negro
A sombra prolongada
Pela relva azul
Salpicada de bolinhas
Amarelas.
Dobrada sobre os joelhos
A Esperança recolhia
Frutos brancos
Em forma de estrela.
Um odor irradiava
Abelhas florescentes
Carregadas de licor
De rosa silvestre.
Ao lado, caracóis magentas
Devoravam folhas encarnadas.
Só o sol, de olhos em riste,
Assistia espantado ao ressurgir
Da natureza, dobrado sobre
Uma almofada de algodão doce.
De rama vermelha,
Tronco roliço,
Vestindo de negro
A sombra prolongada
Pela relva azul
Salpicada de bolinhas
Amarelas.
Dobrada sobre os joelhos
A Esperança recolhia
Frutos brancos
Em forma de estrela.
Um odor irradiava
Abelhas florescentes
Carregadas de licor
De rosa silvestre.
Ao lado, caracóis magentas
Devoravam folhas encarnadas.
Só o sol, de olhos em riste,
Assistia espantado ao ressurgir
Da natureza, dobrado sobre
Uma almofada de algodão doce.
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Na Rua...
Chove de remanso
Sob um chumbo mesclado.
As folhas secas
Seguem o rumo do vento,
Sem palavras
Nem argumentos.
Na tv passa
O Último Tango em Paris…
Três amigas conferenciam
Os desmandos
Das noites passadas,
Embandeirando os sacos
Das compras que carregam.
Chove de remanso
Sob um chumbo mesclado.
As folhas secas
Seguem o rumo do vento,
Sem palavras
Nem argumentos.
Sob um chumbo mesclado.
As folhas secas
Seguem o rumo do vento,
Sem palavras
Nem argumentos.
Na tv passa
O Último Tango em Paris…
Três amigas conferenciam
Os desmandos
Das noites passadas,
Embandeirando os sacos
Das compras que carregam.
Chove de remanso
Sob um chumbo mesclado.
As folhas secas
Seguem o rumo do vento,
Sem palavras
Nem argumentos.
Poema fálico
Menires de cimento
Reproduzem-se
Sob o engenho humano
No espaço voltado
Para as estrelas.
Erguem-se como falos
Gigantes, e neles
Formigas anónimas
Encaixotam-se.
Rolam latas
Para encurtar distâncias.
Pintam o chão de negro.
Neste espaço de singular
Fragmentação, apesar
Da proximidade, o homem
Cruza a indiferença,
E engendra tarefas
Para descompor a indolência
E a inatividade.
Todos são convocados,
Cada um zela pela
Sua circunferência,
Até os mais novos
São imbuídos em tal
Similitude.
Reproduzem-se
Sob o engenho humano
No espaço voltado
Para as estrelas.
Erguem-se como falos
Gigantes, e neles
Formigas anónimas
Encaixotam-se.
Rolam latas
Para encurtar distâncias.
Pintam o chão de negro.
Neste espaço de singular
Fragmentação, apesar
Da proximidade, o homem
Cruza a indiferença,
E engendra tarefas
Para descompor a indolência
E a inatividade.
Todos são convocados,
Cada um zela pela
Sua circunferência,
Até os mais novos
São imbuídos em tal
Similitude.
Amanhã?
O que é o amanhã?
Novo canto?
Ou o azul cálido
Aturdido na tormenta?
Prefiro a repetição
Que sobe em espiral
E nos leva a um ponto
Que não tem retorno.
Esse caminho
Lamenta os pés
Decalcados e lavados
Pela claridade ambígua.
A sereia está lá…
O silvo da víbora também.
Só o teu rio
De águas revoltas
Ainda não tem
Mar nem maré.
Novo canto?
Ou o azul cálido
Aturdido na tormenta?
Prefiro a repetição
Que sobe em espiral
E nos leva a um ponto
Que não tem retorno.
Esse caminho
Lamenta os pés
Decalcados e lavados
Pela claridade ambígua.
A sereia está lá…
O silvo da víbora também.
Só o teu rio
De águas revoltas
Ainda não tem
Mar nem maré.
O pelicano
O azul que verte
Da tua varanda
Tem destino: o mar.
No cimo um menino
Manejava
Um grande pelicano De papel.
O vento puxou-o,
Firmou o fio.
O pelicano bateu asas
E o menino segui-o.
Os dois mudaram
A realidade,
Tiveram uma lua,
Um universo
Unindo as mãos
Do velho tempo.
O azul que verte
Da tua varanda
Tem destino: o mar.
Da tua varanda
Tem destino: o mar.
No cimo um menino
Manejava
Um grande pelicano De papel.
O vento puxou-o,
Firmou o fio.
O pelicano bateu asas
E o menino segui-o.
Os dois mudaram
A realidade,
Tiveram uma lua,
Um universo
Unindo as mãos
Do velho tempo.
O azul que verte
Da tua varanda
Tem destino: o mar.
Pós-moderno
Não importa o belo!
As ovelhas descem a serra
Convencidas dos pastos
Pós-modernos, debitados
Pela internet
E pelas estradas da informação.
Lambem assumidamente
Esse naco de pão,
Expelindo vapores
Carburantes.
Sentem-se simétricas
Na diagonal das estradas
E planam paralelas
Na quietude da auto-satisfação.
Os lobos espreitam-nas
Carregados de sudários
Nessas longas entranhas
Que nunca desaparecem
Nem apreciam.
As ovelhas descem a serra
Convencidas dos pastos
Pós-modernos, debitados
Pela internet
E pelas estradas da informação.
Lambem assumidamente
Esse naco de pão,
Expelindo vapores
Carburantes.
Sentem-se simétricas
Na diagonal das estradas
E planam paralelas
Na quietude da auto-satisfação.
Os lobos espreitam-nas
Carregados de sudários
Nessas longas entranhas
Que nunca desaparecem
Nem apreciam.
Balanço
Fechei para balanço.
Dias incorridos – 365
Pequenos almoços – 365 menos ?
Almoços e Jantares – 730
Dormidas – 365
Mal dormidas – 180
Sonhos:?
Desilusões: ? muitos
Matérias orgânica:?
E inorgânica:?
Oxigénio consumido: ?
E impurezas expelidas:?
Dores de cabeça:?
Horas felizes:?
E infelizes:?
Acessos de angústia:?
E o prazer:…?
A convivência: ?
A conivência:?
As rupturas: ?
A amizade, Kgs, Litros, Kms…
Viagens pela terra?
E pelo mar:?
Também quis chegar à Lua:?
E a rua:…? E as avenidas:?
As cidades:? As aldeias:?
E as pessoas que conheci:?
Outras que evitei:?
A música, sim a música:?
Erudita, popular, etnográfica…
Fechei para balanço,
365 Dias incorridos.
Dias incorridos – 365
Pequenos almoços – 365 menos ?
Almoços e Jantares – 730
Dormidas – 365
Mal dormidas – 180
Sonhos:?
Desilusões: ? muitos
Matérias orgânica:?
E inorgânica:?
Oxigénio consumido: ?
E impurezas expelidas:?
Dores de cabeça:?
Horas felizes:?
E infelizes:?
Acessos de angústia:?
E o prazer:…?
A convivência: ?
A conivência:?
As rupturas: ?
A amizade, Kgs, Litros, Kms…
Viagens pela terra?
E pelo mar:?
Também quis chegar à Lua:?
E a rua:…? E as avenidas:?
As cidades:? As aldeias:?
E as pessoas que conheci:?
Outras que evitei:?
A música, sim a música:?
Erudita, popular, etnográfica…
Fechei para balanço,
365 Dias incorridos.
Poema sujo
Tens a face
Com sangue…
Na lâmina gotejam
Lágrimas de perversão…
E um ódio de desconsolo
Egocêntrico.
Rasgaste os muros
Que ligam Berlim
A Lisboa.
As tuas horas felizes
Exasperam
Em acordes mutilados.
Só reparas no ponto
Dessa espiral concêntrica
Que te puxa,
Não resistes.
Tens a face
Com sangue negro,
As mãos descarnadas
Que deslizam
E não te seguram.
Com sangue…
Na lâmina gotejam
Lágrimas de perversão…
E um ódio de desconsolo
Egocêntrico.
Rasgaste os muros
Que ligam Berlim
A Lisboa.
As tuas horas felizes
Exasperam
Em acordes mutilados.
Só reparas no ponto
Dessa espiral concêntrica
Que te puxa,
Não resistes.
Tens a face
Com sangue negro,
As mãos descarnadas
Que deslizam
E não te seguram.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Encolhimento
O médico comunicou
Que tinha de encolher.
Sim! Leste?! “Encolher”!
Mas como se encolhe?
O receituário foi
Dormir de pernas para o ar!
Lá dormi em conformidade.
Na manhã seguinte
Acordei com uma
Montanha de palavras
No chão…
Sim, no chão!
E não conseguia falar!
Os olhos
Também não os encontrei…
Talvez estivessem
Dentro dos sapatos caídos.
Estava de pernas no ar
E vazio por dentro.
As pernas ofereci-as
De inutilidade.
Ficou o corpo
Suspenso pelos braços…
O médico comunicou-me então
Que havia encolhido.
Que tinha de encolher.
Sim! Leste?! “Encolher”!
Mas como se encolhe?
O receituário foi
Dormir de pernas para o ar!
Lá dormi em conformidade.
Na manhã seguinte
Acordei com uma
Montanha de palavras
No chão…
Sim, no chão!
E não conseguia falar!
Os olhos
Também não os encontrei…
Talvez estivessem
Dentro dos sapatos caídos.
Estava de pernas no ar
E vazio por dentro.
As pernas ofereci-as
De inutilidade.
Ficou o corpo
Suspenso pelos braços…
O médico comunicou-me então
Que havia encolhido.
Entrevista de Z.
Voltei a escrever
Como um pintor
Que se abstrai
E coloca pontos
Num espaço vazio.
As casas, as ruas,
As pessoas, as relações,
São traços de poesia
Por vezes, cruéis e rudes,
Outras tantas vulgares.
Fujo dessa realidade
Diversa,
Interessa-me a irrealidade,
E o espaço que está
Para lá do entendimento,
Esse é o meu lugar.
A não pode buscar B.
B foge de A num infinito
Processo labiríntico
De insubordinação.
O terreno aliena.
A poesia escreve
Sobre rupturas.
Como um pintor
Que se abstrai
E coloca pontos
Num espaço vazio.
As casas, as ruas,
As pessoas, as relações,
São traços de poesia
Por vezes, cruéis e rudes,
Outras tantas vulgares.
Fujo dessa realidade
Diversa,
Interessa-me a irrealidade,
E o espaço que está
Para lá do entendimento,
Esse é o meu lugar.
A não pode buscar B.
B foge de A num infinito
Processo labiríntico
De insubordinação.
O terreno aliena.
A poesia escreve
Sobre rupturas.
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