Constrói-se poesia
Erguendo paredes, palavras, sons,
Sentimentos, imagens, ritmos
E todas as janelas
Para que cada um,
No íntimo da narração
Encontre a sua.
O maior poema é aquele
Cuja janela é ampla e aberta
Para fora, e nela o horizonte
Poisa no seu parapeito.
Toda a poesia evoca asas
E rima com liberdade.
Abastece-se de palavras soltas
Da pena do poeta
Entre conteúdos, simbologias,
O eu e o eterno que abrem portas
Para fora… para dentro
Sufocariam e morreriam…
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Nucleo
O núcleo fragmentou-se
Em buscas derivadas
Dispersas por sons e fantasias,
Pretensões marchetadas
Sobem ruas sombrias
De pensamentos soltos e cavos.
Os ramos que vergam o vento
Torcem a realidade em estados
Instantes e anulam o alento
Nascido no lago que advém
Da terra parida. A semente
Gerou o húmus cavado além
Das flores marginais e da terra
Picada pelo uivo da serra.
Os homens do paredão
Sentados na distância
Colhem notícias de ocasião.
Soprando os barcos a maresia
Ajustam as ondas às velas
E as árvores aos cascos maduros.
O sol desmaia sobre elas
E levanta rumores escuros.
Em buscas derivadas
Dispersas por sons e fantasias,
Pretensões marchetadas
Sobem ruas sombrias
De pensamentos soltos e cavos.
Os ramos que vergam o vento
Torcem a realidade em estados
Instantes e anulam o alento
Nascido no lago que advém
Da terra parida. A semente
Gerou o húmus cavado além
Das flores marginais e da terra
Picada pelo uivo da serra.
Os homens do paredão
Sentados na distância
Colhem notícias de ocasião.
Soprando os barcos a maresia
Ajustam as ondas às velas
E as árvores aos cascos maduros.
O sol desmaia sobre elas
E levanta rumores escuros.
sábado, 25 de janeiro de 2014
Manon
Manon, que sendas
Hei-de tomar para entrar
Na tua realeza?
Serei tão ignóbil para o teu reino
Me negar a tua comunhão?
Manon, ouviu a minha súplica
E enviou a mensagem:
Cria estômagos vorazes no lugar de cabeças
E expande-os até aos pés,
Abre-lhes grandes bocas
Onde caibam todas as ambições.
Reduz os outros órgãos
Á redenção daqueles.
Ergue grandes templos, vistosos,
Onde o meu espírito facilmente
Possa ser detectado,
Multiplica a circulação do meu corpo
Do meu amado sangue.
Todos creem em mim, lembra-te disso.
Sou o pão, sou o vinho,
O alfa e o ómega, o princípio
E o fim, e a cratera donde
Brota toda a energia celeste.
Felizes os que me abraçam
E também os que nunca perderam
A fé de me encontrar!
Vê a exuberância do meu ser,
A minha mutabilidade, a flutuabilidade,
A carne do devir. Toca a minha mão
Serena, nada receies! Acredita.
Eu sou a flor dos mercados,
A mão invisível que conduz
Todo o meu fluido.
Vê quem não me alcança.
Que infelicidade! Que fatalidade!
O pecado dos pecados!
A falta que faz falta!
Não vivo pela omissão!
Não me renegues porque nunca
Terás um galo para to lembrar.
Não sofro com lamentos,
Nem comiserações e fraquezas.
O meu maior mandamento
São os resultados! Exaspero
Por resultados! Quanto maiores
Mais fluo. Estou em toda
A parte, e todos me desejam,
Mas em verdade, em verdade
Te digo, cresce e multiplica-me.
Eu sou o verdadeiro!
O que todos esperam.
O único redentor que a humanidade deseja.
Assim falou Manon.
Em seus passos me guiarei
Até à senda da sua materialidade.
Assim falou Manon.
Em seus passos me guiarei
Até à senda da sua materialidade.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
O Minho
Levanta os braços firmes
Mostra os músculos salientes,
Os punhos admiravelmente cerrados,
Balança o corpo solto,
Baila! Baila! na cadência
Da brisa soletrada pela concertina.
Alegra-te! Estás no Minho.
O Minho do verde espampanante,
Do corte agreste mas idílico dos montes,
Do casario semeado pelas encostas
Das manhãs vigorosas e ledas
Saídas das mãos de um mestre pintor.
Olha as festas! As grandes romarias!
As procissões com os seus santos
Galantemente vistosos.
O Minho dos rios soberbos
Que rasgam a paisagem
E amaciam o verão árido,
Cumulativamente jovem e terno.
O verde da água que escorre
E corre das fráguas recônditas
E que verte das videiras
O primeiro outono servido a Baco.
Mostra os músculos salientes,
Os punhos admiravelmente cerrados,
Balança o corpo solto,
Baila! Baila! na cadência
Da brisa soletrada pela concertina.
Alegra-te! Estás no Minho.
O Minho do verde espampanante,
Do corte agreste mas idílico dos montes,
Do casario semeado pelas encostas
Das manhãs vigorosas e ledas
Saídas das mãos de um mestre pintor.
Olha as festas! As grandes romarias!
As procissões com os seus santos
Galantemente vistosos.
O Minho dos rios soberbos
Que rasgam a paisagem
E amaciam o verão árido,
Cumulativamente jovem e terno.
O verde da água que escorre
E corre das fráguas recônditas
E que verte das videiras
O primeiro outono servido a Baco.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Não passes
Não passes o meio-dia
Sob o manto roto de um carvalho
Roído pela traça do tempo.
Víboras invisíveis tecem o visco
Que as velhas aduncas
Aspergem pelos caminhos
Em noites de lua cheia.
Nem passes nas redondezas dos cemitérios,
Cada árvore, cada planta, cada pássaro traz
Uma alma sedenta de libertação.
E quando vires uma árvores curvada
Rumorejando as folhas, estão
Os teus antepassados perguntando
Por ti e pelos que já amaram.
Nem passes nos umbrais dos grandes pórticos
Ocultos nas cidades adormecidas
Cujos centros contêm altares
E no centro do centro
Sentados em metáforas os poetas
Vão discorrendo, mas tu não
Os ouves. Encosta o ouvido
Ao solo, a terra é fresca e árida
Mas a humidade contem as tais
Palavras que geram árvores,
Montanhas, planetas e o girar do sol
na busca de cavalos fecundos.
Aprende o trilho das quiméricas
Sendas que aqueles tecem
para lá dos homens. Sente o céu
que lhes desliza pela áurea crepuscular,
Em torrentes de azuis e de violáceos.
Dos teus matizes tu já não quererás
Saber porque todas as portas
Se encontrarão franqueadas.
Sob o manto roto de um carvalho
Roído pela traça do tempo.
Víboras invisíveis tecem o visco
Que as velhas aduncas
Aspergem pelos caminhos
Em noites de lua cheia.
Nem passes nas redondezas dos cemitérios,
Cada árvore, cada planta, cada pássaro traz
Uma alma sedenta de libertação.
E quando vires uma árvores curvada
Rumorejando as folhas, estão
Os teus antepassados perguntando
Por ti e pelos que já amaram.
Nem passes nos umbrais dos grandes pórticos
Ocultos nas cidades adormecidas
Cujos centros contêm altares
E no centro do centro
Sentados em metáforas os poetas
Vão discorrendo, mas tu não
Os ouves. Encosta o ouvido
Ao solo, a terra é fresca e árida
Mas a humidade contem as tais
Palavras que geram árvores,
Montanhas, planetas e o girar do sol
na busca de cavalos fecundos.
Aprende o trilho das quiméricas
Sendas que aqueles tecem
para lá dos homens. Sente o céu
que lhes desliza pela áurea crepuscular,
Em torrentes de azuis e de violáceos.
Dos teus matizes tu já não quererás
Saber porque todas as portas
Se encontrarão franqueadas.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Sombras
A vida. Sombras
Tornadas luz, néones,
E todas as cores
Que a memória da estrada
Percorrida retém do esmorecimento.
As sombras humedecidas
Pela ira, tornam-se assombrações.
E as assombrações precipitam
A descrença na humanidade
Debastando os lírios dos campos
E tornando a terra fértil
Num pus escarlate.
Vede os ninhos cremados,
Os pássaros caídos, o touro
Com as patas traseiras cravadas
Na boca. São ismos. São sombras.
Olhos cavados, rostos esvaídos
À mingua de pão, ramos retorcidos,
Barrigas insufladas de miséria.
E a matéria? dos braços
Caídos sobre rochas mutiladas.
São sombras caladas pela hipocrisia.
Sombras dos túmulos aperaltados,
Esse esgoto galante
Que consome uma nação
Vergado ao vexame da mão calcinada.
São sombras. Sombras!
Pesadas as pedras!, os pesos
Acorrentados ao povo
Que se afunda lentamente
Num lodaçal que não engendrou.
Pedem-lhe um sorriso nos lábios!
Grande! Bonito! Perfeito!
Para ficar algures num recôndito
Sado- museu. São sombras!
Minhas! Tuas! Nossas! Vossas!
Levanta-te, ó meu povo! Afasta
A tempestade! Abre as carcaças
Das nuvens e apaga as tuas sombras!
Julga os teus traidores! Julga e condena!
E afasta a derradeira sombra
Que te volatiliza: a culpa colectiva.
Essa não existe! O dolo tem rosto,
E tu conheces-lho,
Vê-lo todos os dias à tua janela.
Mas eles não te vêem…
São sombras! … E as sombras
Só te pedem o precipício.
Tornadas luz, néones,
E todas as cores
Que a memória da estrada
Percorrida retém do esmorecimento.
As sombras humedecidas
Pela ira, tornam-se assombrações.
E as assombrações precipitam
A descrença na humanidade
Debastando os lírios dos campos
E tornando a terra fértil
Num pus escarlate.
Vede os ninhos cremados,
Os pássaros caídos, o touro
Com as patas traseiras cravadas
Na boca. São ismos. São sombras.
Olhos cavados, rostos esvaídos
À mingua de pão, ramos retorcidos,
Barrigas insufladas de miséria.
E a matéria? dos braços
Caídos sobre rochas mutiladas.
São sombras caladas pela hipocrisia.
Sombras dos túmulos aperaltados,
Esse esgoto galante
Que consome uma nação
Vergado ao vexame da mão calcinada.
São sombras. Sombras!
Pesadas as pedras!, os pesos
Acorrentados ao povo
Que se afunda lentamente
Num lodaçal que não engendrou.
Pedem-lhe um sorriso nos lábios!
Grande! Bonito! Perfeito!
Para ficar algures num recôndito
Sado- museu. São sombras!
Minhas! Tuas! Nossas! Vossas!
Levanta-te, ó meu povo! Afasta
A tempestade! Abre as carcaças
Das nuvens e apaga as tuas sombras!
Julga os teus traidores! Julga e condena!
E afasta a derradeira sombra
Que te volatiliza: a culpa colectiva.
Essa não existe! O dolo tem rosto,
E tu conheces-lho,
Vê-lo todos os dias à tua janela.
Mas eles não te vêem…
São sombras! … E as sombras
Só te pedem o precipício.
domingo, 5 de janeiro de 2014
Secreta História
Quando morreres
Manda plantar uma árvore
Sobre a tua tumba.
Espera a chegada da primavera
E de todas as primaveras
Derramadas no pulsar do sol.
As suas longas raízes hão-de
Morder-te a fronte. Então
O teu espirito regressará
Á selva dos vivos.
Grandes bandos de estorninhos
Formar-se-ão ao meio dia
E toda a terra há-de lembrar-se
Daquele que findou e procurará
Aquele que há-de vir.
Partirás no meio deles,
Amparado no esboço das suas asas
Cortantes porque sabem
Que a tua espera é uma
Demora eterna.
Quantas viagens como estas
Já não aconteceram?
Novas neves hão-de ferver
Nos moinhos cavados
Nas entranhas da terra
E a sua mó, redonda como
O eixo do universo, libertará
A tua memória rodando
Incessantemente até colorir
O céu de pó branco, pedra celeste.
Esse pó – incenso, mirra e ruinas
Do teu outro que foi – brotará
Dos bicos das aves libatórias
E formará a matéria
Que os deuses determinaram
Para voltares a ser Homem.
Um novo ciclo para ti começa.
Tu matéria, tu espírito, tu verbo,
Tu sujeito e persona, tu frase,
Tu vida – história secreta
Mas nem por isso redundante
Por que toda a história do homem
Ignoro não se encaixa
Na quadratura dos registos.
Manda plantar uma árvore
Sobre a tua tumba.
Espera a chegada da primavera
E de todas as primaveras
Derramadas no pulsar do sol.
As suas longas raízes hão-de
Morder-te a fronte. Então
O teu espirito regressará
Á selva dos vivos.
Grandes bandos de estorninhos
Formar-se-ão ao meio dia
E toda a terra há-de lembrar-se
Daquele que findou e procurará
Aquele que há-de vir.
Partirás no meio deles,
Amparado no esboço das suas asas
Cortantes porque sabem
Que a tua espera é uma
Demora eterna.
Quantas viagens como estas
Já não aconteceram?
Novas neves hão-de ferver
Nos moinhos cavados
Nas entranhas da terra
E a sua mó, redonda como
O eixo do universo, libertará
A tua memória rodando
Incessantemente até colorir
O céu de pó branco, pedra celeste.
Esse pó – incenso, mirra e ruinas
Do teu outro que foi – brotará
Dos bicos das aves libatórias
E formará a matéria
Que os deuses determinaram
Para voltares a ser Homem.
Um novo ciclo para ti começa.
Tu matéria, tu espírito, tu verbo,
Tu sujeito e persona, tu frase,
Tu vida – história secreta
Mas nem por isso redundante
Por que toda a história do homem
Ignoro não se encaixa
Na quadratura dos registos.
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