A cidade é o espectro
Evolutivo do espírito lazarento
Do homem que se inventa,
E acrescenta pontes às pontes
Que antes havia alcançado,
Subtraindo himalaias
E uns quantos píncaros
Por ora não vencidos.
Não dorme… não vacila… reincarna
A imberbe busca da rarefacção
Do tempo que não fere
A sobrevivência e a comunhão.
Crescem, na cidade, árvores
Cujas folhas titubem sombras
Onde repousam seus habitáculos.
As folhas são mansas. No arrabalde
Os braços arranham os céus.
As estações sucedem-se encíclicas,
Mormente as manhãs esventradas
Pelo negro sangue solidificado
E ancorado em rios riscados
Por mãos venturosas.
Aventa-se nesta esfera a prosaica
Utilidade, o manejo do fazer,
O formatar, o desconstruir,
E voltar a erguer, mas ao contrário
Do néscio, existe uma vontade
Traçada a bom rigor.
Os bairros multicores sucedem-se
Em pormenores de criador.
Nestes acampamentos quem não
Colabora, prepara-se para o combate
Futuro, porque à memória
Do presente e do passado recusa-se
A morte. A humanidade não permite
O retorno ao infinitamente pequeno.
A ordem entronca na grande escalada
Da montanha cujo cume está
Para além das nuvens que a serpenteiam.
Por ela morreram deuses,
Os que sobrevivem estão
Hermeticamente guardados numa
Reserva cada vez mais pequena,
Cercados por mil sábios
E outras tantas bibliotecas.
Os templos também rodam
Com a escala da razão. Abandonados
Pelos deuses, intimados de poder
Incrustado em matéria,
Salientes na nova cúria
Que renega a metafísica.
A roda nascida no bosque
É na cidade que reclama realeza.
O tempo presta-lhe vassalagem,
Como natureza em queda incerta.
Incertas são também as águas.
As águas que tombam dos telhados
Sobrepostas ao entardecer
Como canto dos pássaros mudos.
Lembram-me as fontes plenas de deidades
Que nelas se refrescavam
Embebecidas pelo canto do poeta esquecido.
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