quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Estrada Aberta

Homens de cantar triste
Enterrai as lamúrias
Que impede a volúpia
Da noite demente
Sob os lençóis
Perversos da madrugada.
Deixai o pesar
Da natureza amarga,
Das árvores de braços vazios,
Dos cadáveres apodrecidos…
A sanidade há-de regenerar.

Cuidai de dar brilho
Ao sol e às flores amarelas
Que estrelecem o céu,
Ao canto dos pássaros coloridos
Que despertam o gozo,
Ao latir do lobo fortuito
Que revela a selva,
Ao galo distante
Que anuncia a nova ordem,
Ao gato que se enrosca
Na pacatez do tempo,
Ao corajoso que arvora
Mais um dia pleno.

Partam o vidro!... o vidro escuro!
A neblina andrajosa
Que ofusca o cais.

Não transformeis a terra alegre
Num lodaçal movediço e viscoso
Onde as cores e a música
Submerjam.

Entrai no mar
Que ele se abrirá!
Ousai desafiar a chuva
Para dela duvidardes!
Lançai-vos da janela,
Planareis de prazer!

Sonhai! Sonhai…
Que a obra nasce
Das vitórias.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Rascunho

As linhas cruzadas
Disparam touros
De hastes curvilíneas,
E do cachaço corpulento
Rústicos corvos negros
Cortam-lhe a carne mortiça.
As rosas soçobram-lhe da boca
Sobre troncos despidos
De lugares incertos,
E tomam-lhe por verde,
O verde dos campos cobertos
Pela monção de sóis semeados
Nas noites das luas de prata.
Nela os homens balançam
Como lobos dilacerados
Pelas hastes das linhas
Cruzadas dos touros
Negros de cachaço opulento.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Bolos & Afectos

Na pastelaria.
Teus olhos doces,
Terno o teu olhar,
Meigamente afagas a minha mão.
Brinco com a tua
Num laço que prometes ser longo.
Beberico café!... Sim, café!,
Numa réstia de chave.
Falas-me da tua semana,
Do teu emprego,
Dos desencontros…
Da rotina…
Da última notícia da tv…
Das tuas esperanças
E do horizonte
Que pretendes ser nosso.
Rodeias-me com todo o afecto,
Teus lábios brilham! Brilham de leveza!
Sussurras que me amas!,
Não vá a mesa do lado notar.
Dás-me um beijo indiscreto…
Troco outro mais profundo,
Simplesmente ousado.
Toda a planície
Tem uma lonjura
Que atravessa o cosmos
E fixa-se no infinitamente grande.
Sorris!

Saímos de mãos entrelaçadas
Para ver montras
E paisagens…

No fim da tarde, subimos
Ao último andar do shopping
Para aproveitar a penumbra
Da sala do cinema
Enquanto a tela
Passa um filme sem memória.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Chanson d´ Amour

Tarda o amor,
Segredo inverso
Crente na fátua luz…
In e explosão!!!!
Fragmento…
Aliteração…
Jogo de sombras
Ondas de rebentação…
Pó de universo esmagado,
Adormecido,
Do nada o eu sagrado
Rebenta o chão,
Cinge o sol,
Adormece
Ao de leve sobre os nenúfares
Do azul celeste.
Tarda o amor,
Quadro vazio
Tingido por um quebranto
Sombrio.
O verde campestre
Aglutina-te ao encanto.
Há-de ser passado
Tímida trajectória
Presente memória.
Tarda o amor…
Debaixo deste alpendre
Hei-de vê-lo passar.
Procurar? Encurta
Ou cava ausência?
Todo o elemento
Clama o uno universal.
Tarda o amor.
Tarda o amor
Mas não cansa.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Cavalo de Tróia

o cavalo está feridO,
cavalga com um carrO
entranhado no ventrE.
sabE
que as rodaS
aumentam-lhe a velocidadE.

cuida com a caudA
a ferida... mantendO
o humano presO
ao volantE.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Desabafos

A lado o rato
Vai para a toca
Tomou remédio
Num bar da doca
Para fugir ao tédio
E ao dono da roca.

Balofo o gato
Amante de cachimbo
Expele aroma burguês
Ancorado no limbo
Torpe e soez
Tomando o cacimbo
Pelo rato cortês.

A formiga despachada
Despertou-lhe inveja
Não pelos tímidos passos
Mas pela ciência que coteja
Na marcha dos finos espaços
E do labor que graceja.

O cão inútil
Refastelado no sofá
Navega na internet
Sem grande afã
A noite deixa-o inerte
E adormece com suco de maçã
Até à hora da toilette.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O ilusionista

Senhoras e Senhores,
Meninos e meninas
O admirável, o fenomenal… Ilusionista!

Primeiro número

      Um cubo transmuta-se
      Infinitamente até ao nada.

      Vejam!
                                                 Palmas senhores!
                                                 Palmas!

Segundo Número

Do chapéu de coco saltam coelhos,
Tigres, camelos e elefantes!

        Esplêndido!
                                                  Palmas senhores,
                                                  Palmas!

Terceiro Número

Dos olhos quietos brotam moedas,
Notas, cheques, cartões multibando,
Contas bancárias e por fim um banco comercial!

        Espantoso, não é?!
                                                 Palmas senhores!
                                                 Palmas!

Quarto número

Do bolso do casaco
Aos lenços, sucedem-se lençóis,
Edredões, tapetes e por fim
Uma confecção!

          Magnífico!
                                                Palmas senhores!
                                                Palmas!

Quinto número

A auxiliar é serrada
E embalada às postas.

        Soberbo!
                                                 Palmas senhores e senhoras!
                                                 Meninos e meninas
                                                 Palmas!

Sexto número

Migração do público
Em patos!

           Maravilhoso!
                                                Batam asas!
                                                Grasnem!

Sétimo e último número

          “Perante vocês, anuncio-vos
            O Vosso próximo presidente.
            Votem! Votem nele! Já sabem:
           “Com o ilusionista a presidente
            O país vai para a frente!”

                                              Ilusionista amigo
                                              O povo está contigo.
                                              Ilusionista amigo
                                              O povo está contigo.
                                              Ilusionista amigo
                                              O povo está contigo.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

12 Belos Poemas

A Maria amA.
…………………………
A Ana deu à luZ
……………………………
A Clarisse sorrI.
…………………………….
O António abraçA.
…………………………..
O sol está pungentE.
…………………………………
A noite caiu tépida e serenA.
……………………………….
O melro canta a alvoradA.
………………………………..
A árvore floriU.
………………………….
A flor frutificoU.
…………………………….
As borboletas paparicam as floreS.
……………………………….
O galo anuncia o novo diA.
………………………………
E tudo isto começou num charco por acasO,
Onde não havia nem pintores, nem fotógrafos, nem jornalistaS…

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ela (a duas vozes)

Lá vai ela
Com t-shirt da Florbella
                                                Sim, lá vai ela!
Na mão leva uma Lewis Botton
Na outra um Lulu
Pela trela.
                                                Sim, na mão
                                                Segura uma cadela!
Os óculos BanR
Torna-lhe os olhos escuros.
                                                Pelo sim, pelo não
                                                Ficam mais seguros!
A anca deambula
Serena e sensual!
                                                Magnífica! Natural!
Tingiu de oiro o cabelo
E as unhas acrescentos.
                                                 Sim! Novos argumentos!
O decote molda-lhe
Os belos seios.
                                                Sem constrangimentos!
                                                Sem receios!
A saia desenha-lhe
Metade da perna!
                                                A outra meiga e terna!
Sinto-lhe o Chanel
Em final de Verão.
                                               Toda a flor
                                               Tem um dia sim e um dia não!
Entra num cabriolet
E descompõe-se.
                                              Só o cão
                                              É que não!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Nuvens Nefastas

Não procuro a solidão
Invocando a ordem estética
Ou a natureza antropológica,
Nem me refugio na metáfora da montanha,
Nem nas esconsas grutas escavadas na Utopia.
Isto só cria monstros…
Feitos de sombras esquizofrénicas
Manietando a realidade
Sobre volumes de cadáveres.
Num desses bares comodamente
Sentados, vejo Hitler e Estaline
Jogando xadrez escudados
Nas últimas cenas operáticas
Redentoras de nacionalismos
Resgatados de um subconsciente
Morto ou adormecido.
Pressinto-os rodeados por toda
Uma pilha livresca construída
Sobre o empurrão à selecção natural
E secundado pelo super homem.
Um joga a pedra de sangue
Do seu próprio povo, o outro
Move a carcaça da sua suposta
Raça, e neste jogo assassino
Cada um tenta o maior número
De mortos para se declarar vencedor
Nos arrufos desta memória nefasta
Surgem novos profetas e arquitectos
E novas nuvens negras já se formam
No horizonte.