quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Rotundas sem tundras

A cidade é o espectro
Evolutivo do espírito lazarento
Do homem que se inventa,
E acrescenta pontes às pontes
Que antes havia alcançado,
Subtraindo himalaias
E uns quantos píncaros
Por ora não vencidos.

Não dorme… não vacila… reincarna
A imberbe busca da rarefacção
Do tempo que não fere
A sobrevivência e a comunhão.

Crescem, na cidade, árvores
Cujas folhas titubem sombras
Onde repousam seus habitáculos.
As folhas são mansas. No arrabalde
Os braços arranham os céus.
As estações sucedem-se encíclicas,
Mormente as manhãs esventradas
Pelo negro sangue solidificado
E ancorado em rios riscados
Por mãos venturosas.

Aventa-se nesta esfera a prosaica
Utilidade, o manejo do fazer,
O formatar, o desconstruir,
E voltar a erguer, mas ao contrário
Do néscio, existe uma vontade
Traçada a bom rigor.

Os bairros multicores sucedem-se
Em pormenores de criador.
Nestes acampamentos quem não
Colabora, prepara-se para o combate
Futuro, porque à memória
Do presente e do passado recusa-se
A morte. A humanidade não permite
O retorno ao infinitamente pequeno.
A ordem entronca na grande escalada
Da montanha cujo cume está
Para além das nuvens que a serpenteiam.
Por ela morreram deuses,
Os que sobrevivem estão
Hermeticamente guardados numa
Reserva cada vez mais pequena,
Cercados por mil sábios
E outras tantas bibliotecas.

Os templos também rodam
Com a escala da razão. Abandonados
Pelos deuses, intimados de poder
Incrustado em matéria,
Salientes na nova cúria
Que renega a metafísica.

A roda nascida no bosque
É na cidade que reclama realeza.
O tempo presta-lhe vassalagem,
Como natureza em queda incerta.

Incertas são também as águas.
As águas que tombam dos telhados
Sobrepostas ao entardecer
Como canto dos pássaros mudos.
Lembram-me as fontes plenas de deidades
Que nelas se refrescavam
Embebecidas pelo canto do poeta esquecido.

domingo, 15 de setembro de 2013

Tive uma insónia,
Melhor,
Esta veio ter comigo
À gare da noite escura.
Chovia.
Meu quarto lampejava em soluços
Eu transpirava em agonia.

Deitados acendemos um cigarro
Em sujas mãos cuidamos intromissões.
Nesse corpo de iguais
Destinos viajamos no espaço
Poidos do infinito
Marejar de sensações.

Fizemos amor,
Enlaçados em memórias quedas
Cujas manhãs
Bebiam na virginal natureza
Das fontes outonais,
As águas primeiras.

Toda a rua ficou
A esmorecer
Quando bateste a porta
Sem dizer o adeus da praxe,
já o sol tresandava calor,
E o meu transpirar
Bramia as bordas do lençóis.

Mar por que vais?
Por que vens?
Por quer baloiças?
Pausadamente ou violento?
Quem te embala?
Será que trazes novas?
Do além ou do Aquém?
Por vezes oiço-te chorar.
Quando falas,
Sussurras temeroso.

O teu seio é retumbante
Em vida. Devias sorrir!

Por que sufocas
Quem em ti se alimenta?
Ser-te-á o Homem ingrato?

sábado, 14 de setembro de 2013

A Praia Matisada

A areia rola no corpo
Os corpos que rolam
Rolam esbeltos.

Os corpos esbeltos
Rolam meus olhos,
Meus olhos abertos.

Olhos despertos
Em rochedos descobertos.

Sob a soberba maresia
As gaivotas reconhecem
Que o mar enfunado
As deixa inquietas em terra.

Volvo ao mar.
Ao mar que refresca
E revolto corta o cio à canícula
Saciando o avaro
Que nele ousa entrar

O amor

Jorra o amor
Na frondosa fogueira,
Inquieto e exasperado,
Inculcando vontade
De alcançar a plenitude.

Arvora-se o vermelho,
A tez de carmim
Na escusa pradaria,
Tomada de sensibilidade
E adulterada de verdejantes
Pontos de fruição.

Nesse rio corrente
Cujas probabilidades pulsam o infinito
As margens renovam
O fruto que nele emerge.
Cresce nesse estio
A frigida estação
Que tudo dá
Em troca carrega a metamorfose
Que a primavera, justa
Na medida do tempo, deforma
Em folha rasgada
De figueira.

Jorra o amor
Em tragos de felicidade
E assomos de momentos termos
Cujas delicias vertiginosas
Perpetuam o destino
Que sobre os ombros nos devora.