terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Poema Dormente

Tenho um copo de água
Na cabeça,
As crinas ruborizadas
Alisam as crinas
Peludas dos cavalos
Contentes.

Assentes
Na avenida dos sonhos
Os meus sapatos trovam
A linguagem da calçada…

Na entrada
As ervas crescem
E rompem o céu como espectros.
Os burros dormem
Com uma rosa púrpura
Nas entranhas.

Estranhas
Um internauta
Que espreita o abrir do computador.
Dá-lhe um gin desesperado
E acende-lhe o cigarro.

Agarro
As manhas dos despertador
E coloco-o na torre da igreja
À meia noite o galo
Denuncia as pegas
Nas janelas do prior.

O autor
Rapa tacos à carteira
Crava bugigangas no nariz
Para adivinhar
O dia em que vai delirar.

No bazar
Compro estrelas,
Que não pinto no céu,
E um velho sol de cristal
Para colocar à noite
Debaixo da cama,

Na lama
Os cavalos partiram,
Ficaram os burros e um galo
De barro que desafina
Que se farta.

Gente feliz
Nada diz…
Sorry… diz o inglês.
Enfim, malta!…
Dormam bem…
Sonhos a rebentar paredes!
Os meus tresandam
Mas ninguém os sente.

Chiu!!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Outros pássaros

Outros pássaros foram
Voando… pela noite,
Em círculos, em bandos,
Diante de barcos carregados
De apenas maresia…
E debicavam piamente
A borda do barco vazio…
Outros contornavam
As rotundas da vida
E seguiam as auto-estradas
Inesgotáveis de adrenalina
E lá rompiam sem volta.

Havia outros destemidos
Mergulhavam o bico
No dever
De voltar novamente
ao mar,
Por lá ficavam
Temporadas, vidas inteiras…
Que se esgotavam
Num tempo redondo
Cuja espiral não rompia
A madrugada
Nem deixavam
Que as açucenas aproximassem
O seu elixir.

Óculos lunares

Os meus óculos corrigem
Os olhos – consigo
Filtrar a desfocagem
Do cosmos mitigando os intervalos
Criados entre os buracos negros
que o espaço não consegue mostrar
se não através da verdade.
Mas o que prende a verdade?
A resposta vagueia
Como as sombras projectadas
Das cavernas informes
E os arautos replicam
A criação como género.
Ponho a verdade na ficção,
O espaço nos caminhos estivais
Cuja reserva perpetua
Um sonho ébrio.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Gare

Uma rapariga dançava
Na gare do metro…
Os phones retinham-lhe o silêncio
E os membros batiam as asas
Sopradas pela batida do compasso.
Livremente desenhavam
O pathos da polis,
E os seus espelhos retorcidos
Lhe delimitavam
Os passos sem derrubar
O equilíbrio ténue de quem
Passa pela continuidade.
Nela as cores, as linhas,
As sombras e a intervenção
Roçavam o finito movimento
De um poema em construção.

Muros Imprecisos

Sentada tomavas um raio de sol
Que se abria entre a fugaz morfologia
De um céu tosco ... carregado
E indeciso.
Teimavas no fixo horizonte
Onde a mente se movia na frugalidade
Sem deixar um rasto nem levitar.
Ao lado um outdoor branco macerado
Prendia um ponto de interrogação
Indiferente à pétala esquecida
Que dobrava a alma em ti encanecida.
Lavavas nas imensas imagens
Os olhos presentes
Apinhadas na borda da mesa.
Sorvias o tempo num trago demorado
Deixando a quietude florir,
Bela e delicada.
Por fim abriste a porta
Da noite ao abismo,
E ficaste ali e eu em ti.