É quase noite, a noite é quase
O bastante para tolher a dimensão.
Chegas enrolada em pavor,
Com os olhos caiados no chão
De lamento. Rumina
Dentro de ti esse moinho
Da rugida mó, despida
De desejo e afecto, trucidada
Pelos subterfúgios que inventas,
A cujas escadas não sobes.
Torces toda a luz apagada
E depositas a inábil
Comiseração no estendal
Sobreposto a toda a lucidez.
É quase noite!
O prosac diluído na água
Afastou os últimos pássaros
Que assomavam à vidraça.
Lembras-te como volteavam?
Os pássaros transmutaram-se
Em gafanhotos, mas para ti,
No fusco quebranto
Ouvias o torpor dos bisontes
Rumando às ervas tenras
Abrigadas nos íngremes
Desfiladeiros.
É quase noite!
Desististe de puxar as rédeas
Que largam os gestos passados
Pela natureza, e o aluvião, que
Encontraste, desespera os corvos,
Do outro lado da vida, agonizados
Como folhas secas. É vê-los
No silêncio incógnito.
É quase noite!
A tua vida é ainda madrugada.
Fútil, achas, inútil, acrescentas.
E as esferas correm nas entranhas
Da terra. Os dias preenchem
Longas marchas. O retorno
Inventou a lança. A constante
Fixa-te no fio que admiras
Na parede.
É quase noite!
As trevas descem vagarosamente
Sobre o teu canto, o teu peito
Mergulhou na sombra.
É quase noite!
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