terça-feira, 5 de setembro de 2017

Cavalos soltos

Não quero partir em debandada,
Amor, da terra parida,
Cor de indefinida luz,
Sol, lua e dia intumescente.
Todos os laços são prados
Férteis, regalo de vencedores
Mansos e água que há-de
Tocar novos moinhos
E daquelas mós de pedra
De cor duvidosa
Há-de brotar a mais árdua
Farinha e dela as mais
Belas alegorias… Todos
Os seus ramos hão-de
Formar a árvore que vence
Os dias de espesso nevoeiro

Todos ancoramos estes sonhos
No movimento perpétuo da liberdade.
Essa montanha movediça,
Poiso do esforço que nos promete
Transpor a esperança.
É certo que a ilusão dos primeiros
Pomos fazem crer-nos
No quão é fácil atingi-la,
E pulamos sentidos sem sentido
Trucidando os pés na adversidade.
Pesados e carunchosos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Reporter XYZ

A Rua transpira calma.
Um DJ empresta-lhe harmonia,
Um saltimbanco novidade,
Um cinéfilo efeitos visuais.

Os velhos jogam às escondidas,
Dizem que é para ninguém os ver!
Que novidade!... Arrogância
Permitida aos seniores.
Os casais passeiam os filhos pela trela
E os cães ao colo…
Os telemóveis namoram os transeuntes,
Os robots ocupam o Jardim Público.
Os carros parquearam os condutores
Nas bermas das ruas e barulhentos
Deslizam com uma calma
Que não lhes era conhecida.
Os edifícios alojam os animais,
Os homens vivem nos anexos.

Todos respiram felicidade…

Saudação ao Sol

Saúdo o Sol,
E a janela grande
Que mo traz!
A manhã lentamente
Sacode o espaço das inconstâncias
Que o tornam vago e inútil.
As cores sensíveis
Aportam a jovialidade
Do tempo presente
Exortando a estender
Uma prece que devolve
O Homem à eternidade.

Saúdo o Sol
E a janela grande
Que mo traz.

Vade retro a noite cava
E a canção que ela embala.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Rio Grande

Duas margens não se tocam
Densas correm juntas para a vida
Eterna – ora agasalhando
A água, ora acasalando-a
Com as planícies que a deseja.
Nessa densidade terna, presente,
Inerte, saudosa, irrevogável,
A tempestade não colhe rugas,
Os becos guardam memória,
Os lagos sepultam os “ses”,
E as frustrações são o húmus
Das árvores que seguram as cheias.

Não me peças fontes! Podem as águas
Quedar-se impuras e o rio secar
A planície… fala-me antes assim!
No ronronar cósmico
Que me leva a segui-te sem te tocar.

Tensão

A luz percorre a distância
Do vagar das folhas lúcias
Que desprendem o outono,
Ondulantes vão pausadamente
Aconchegar-se no chão seco de adjectivos.

Sob os teus pés acrescentam o ínfimo
Às camadas enegrecidas, testemunhas do passado,
Sujeito que sabe perscrutar a distância.

A luz repete-se no términos da noite
E espera que teus passos não vagueiem
Pelas sombras que se lhe escapam.

Como silenciosa bate á tua janela!
E sem escrúpulos pede para entrares nela.

Não vás pela noite defraudada
Passear no cais sem aurora

A lua geme… o sol uiva
A natureza encrespa o pêlo ensandecido,

Treme todo o teu ardor,
O leme destila as rochas fugazes
Que rebentam as marés da enseada.
Tua alma espuma o sal fecundo
Que espalha a morte por onde se desagrega.

Não vás pela noite defraudada
Passear no cais da demora.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Poema Dormente

Tenho um copo de água
Na cabeça,
As crinas ruborizadas
Alisam as crinas
Peludas dos cavalos
Contentes.

Assentes
Na avenida dos sonhos
Os meus sapatos trovam
A linguagem da calçada…

Na entrada
As ervas crescem
E rompem o céu como espectros.
Os burros dormem
Com uma rosa púrpura
Nas entranhas.

Estranhas
Um internauta
Que espreita o abrir do computador.
Dá-lhe um gin desesperado
E acende-lhe o cigarro.

Agarro
As manhas dos despertador
E coloco-o na torre da igreja
À meia noite o galo
Denuncia as pegas
Nas janelas do prior.

O autor
Rapa tacos à carteira
Crava bugigangas no nariz
Para adivinhar
O dia em que vai delirar.

No bazar
Compro estrelas,
Que não pinto no céu,
E um velho sol de cristal
Para colocar à noite
Debaixo da cama,

Na lama
Os cavalos partiram,
Ficaram os burros e um galo
De barro que desafina
Que se farta.

Gente feliz
Nada diz…
Sorry… diz o inglês.
Enfim, malta!…
Dormam bem…
Sonhos a rebentar paredes!
Os meus tresandam
Mas ninguém os sente.

Chiu!!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Outros pássaros

Outros pássaros foram
Voando… pela noite,
Em círculos, em bandos,
Diante de barcos carregados
De apenas maresia…
E debicavam piamente
A borda do barco vazio…
Outros contornavam
As rotundas da vida
E seguiam as auto-estradas
Inesgotáveis de adrenalina
E lá rompiam sem volta.

Havia outros destemidos
Mergulhavam o bico
No dever
De voltar novamente
ao mar,
Por lá ficavam
Temporadas, vidas inteiras…
Que se esgotavam
Num tempo redondo
Cuja espiral não rompia
A madrugada
Nem deixavam
Que as açucenas aproximassem
O seu elixir.