sexta-feira, 1 de maio de 2015

O Gato

Se há animal que colhe o tojo
À meia-noite e se deita
Antes que o galo cante,
Depois de passar por todas as fontes
Para resfriar os bigodes
Erectos --- o gato!

O gato encerra a pompa do leão,
O ensejo do tigre,
A argúcia do leopardo,
A velocidade da chita,
E no pelo macio, inicia
Também as virgens
No tacto e na alegoria
Do prazer.

Abertura

Um raio
Traçado no solo
Marca a obra da natureza
E pende a luz intensa
Sobre o abismo que se abre.
Nada é acaso!... nem o vazio
Que irrompe pelo estio,
Nem a força que abre a terra
Ás raízes mais profundas
Da maior árvore que se ergue
Na cume do maior edifício.
Tudo se ergue! Ergue-se em chama!
E chama… chama pela voz
Doce que desce todos os dias
Pela alvura da madrugada.
Tu não ouves?! Sente o seu sopro!
Como se compraz quando te embala!

Hums

Restavam as asas
E todas as lamúrias perdidas
Nas delongas conversas esquecidas
Sobre o fútil e a comiseração.
Um naco de pão inerte
Ajeitava a mesa,
Quadrada como o universo,
Vaga como o espaço,
Piedosa como as mãos
Que sobre ela aquiesciam.
Os lábios redundavam
Apenas uns “hums” murmurados
Como se nada houvesse
A acrescentar nestes ombros
Encalhados.
No tempo juntava uns “sms”
Burilados no novo campo
Da rede, nesse novo cosmos
Organizado por caracteres
Singelos das novas convenções.
Ao lado, erguiam-se outras mesas,
Como metáteses multiformes
E multicores – mas a mesma
Redundância.