segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Dispositivo #4#

O homem de aço
Escuda-se na presença
Do muro escuso
Tornado imóvel
No campo da negação.
Abriga a vítima
Dos corvos gigantes,
E espera que o tempo
Seja acontecimento.

Os seus abutres selvagens
Nidificam-lhe nas órbitas
Escuras e sobre as densas
Nuvens cegas de letargia
Partem náufragos do desejo
Em cujo regaço as flores
Pálidas tomam por luz
A ausência.

Lolita tem um elo
Plantado no cadafalso
Desse céu de orvalho
Gemido… deita-se
No pasto da noite
Após deambular
Pelas avenidas chocadas
Sobre as torres de betão
E as árvores prateadas…

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Dispositivo#3#

Gosto da cor,
Garrida de preferência.
A jactância do preto
E branco formam
Distâncias e perfeições
A que não aspiro…
Sou um comum
Ciente do comum.
A cor
Transmite-me vida,
Luz
Perfume
Jardim
Ilhas expostas à inclusão
Onde todas os matizes
São pontos de partida.
Gosta da cor,
Viva de preferência,
Da voz que se levanta
Sobre o silêncio
Das manadas
Enquistadas
Pela indolência
E pelo sono
Dos corpos retidos
De movimentos.

Bebo da espuma
A diversidade
Num trago glacial
E volto como
Se a manhã fosse
Eterna.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Dispositivo #2#

Apraz-me o gesto da eternidade
No rosto lívido que entra na caverna
Do tempo… Dissolvido o humano,
A manhã fresca sopra como
Uma leve brisa de latitudes
Para lá das sensoriais
Vozes. Tudo é natureza,
Tudo é dissolvido,
Amassado
E de novo dado à luz…
Pela grande Mãe.