quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sobre Corrente

Não quero ser rio,
Nem mar,
Nem oceano,
Antes um ribeiro
Juncado por inúteis
E pardas excrescências
Da natureza brava
Que escurece
A sombra
E releva a exuberância
Do verde que forma
Todo o corpo
Da serpente infinita.

Não quero ser noite
Nem dia,
Nem céu,
Nem terra,
Dos astros pretendo
O berro abafado
Do jogo das desarmonias.
O que me
Seduz
É a relevância
Do instante.

Deixo para outrem
O apego ao Universo,
À matéria negra
Que lhe enche
A despensa,
Ao caudal
Do ouro
Colhido nos
Ramos do sol
E guardados
Pela inquietude
Da probabilidade,
À miséria
Dos pés que se fixam
Sobre os ombros
Das manadas
Ansiosas
Por um quê
De forragem.
O que me
Seduz
É a constância
Do ser.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A Noite

Foges na noite…
O meio rosto luz
Animado em manto
De cera. Não esperas
Brilho, nem lucidez,
Nem um rumo
Por entre as vielas
Adormecidas
De gente
Que se repete.
Procuras o teu
Refúgio
No lodo mais negro
Das cidades consumidas
Pelas ruas de
Segredo matizado.
Colhes as tuas flores
Cujas pétalas
Exalam a nicotina
Do fundo
Que te come.
Ardes de dor,
Uma dor que volta
Como uma redoma
E te aconchega
Cada vez mais fundo...
Por entre vielas
Adormecidas
De gente
Que se repete.